2025-05-07
Palavras chave
actividade estrelaA actividade, que em boa hora a Direcção da ASE decidiu designar por “Estrela Livre”, cumpriu todos os pressupostos para os quais foi pensada inicialmente. Desde logo porque se pretendeu promover, desde a organização aos participantes, a responsabilidade individual de cada um para com o Património Natural da Serra da Estrela. Se por um lado tivemos como objectivo fomentar o sentimento de liberdade na montanha, procurou-se, simultaneamente, sensibilizar os participantes para os princípios subentendidos à defesa e conservação dos valores naturais sobre os quais tiveram oportunidade de reflectir. Uma actividade livre de preconceitos e de tutelas arrogantes, que em vez de se apoiarem nos cidadãos, fazem deles bodes expiatórios das suas incompetências. De facto, a Serra está ao abandono e a realidade mostra-nos que cada um a molda aos devaneios que possui.
Em termos estatísticos, o Estrela Livre contou com 27 inscrições, tendo participado na caminhada 20 pessoas por uma distância de 21 quilómetros e umas boas 10 horas de duração, com um desnível acumulado de 2000 metros, aproximadamente.
Estava previsto que não iria ser um dia de competição (dessa daremos nota mais abaixo), mas de convívio, companheirismo e motivação para superar desafios como as condições ou as diferenças de idade, porque viver ao nível do mar faz mossa a quem acede a maiores altitudes. A adaptação é necessária para que se chegue ao fim com vontade e repetir.
Houve tempo para umas breves palavras sobre o ambiente que se estava a pisar e as consequências visíveis de práticas menos apropriadas – consentidas ou, até, promovidas – por quem manifesta não conhecer os seus efeitos nocivos da sua prática para o Património Natural da Serra da Estrela. O dia culminou com um bom jantar de convívio e confraternização. As conversas cruzavam-se à mesa, cada um expressando as suas peripécias e escutando-se inúmeras referências às maravilhosas paisagens, naturalmente promovidas pela época primaveril, que não deixa de contribuir com tal impressão.
Depois desta breve descrição sobre a actividade, importa destacar alguns aspectos que emergiram ao longo da caminhada e que têm sido motivo de preocupação da nossa Associação. É-o, aliás, desde que o PNSE, em 1984, permitiu balizar o Planalto Superior com uma rede de percursos pedestres, a qual mereceu a nossa chamada de atenção aos seus promotores para os riscos que tal ideia iria provocar naquela área sensível da Serra da Estrela, numa reunião promovida pelo Parque Natural para o seu anúncio. Longe, ainda, daquela que viria a ser considerada a Reserva Biogenética, criada em Dezembro de 2005, com 5.075ha, e que tão mal tem vindo a ser gerida, com sérios riscos de manter esse estatuto.
A realidade, confirmada ao longo da caminhada, veio reforçar os receios e os alertas da ASE, quanto ao acelerar da degradação do Património Natural do Parque Natural da Serra da Estrela, provocado por quem tinha o dever de pugnar para que tal não pudesse acontecer. Actualmente, as áreas mais sensíveis daquela que foi a maior Área Protegida do país estão em roda livre, um autêntico ginásio a céu aberto, desprovido de regras, descontrolado, onde cada um faz o que lhe apetece. As empresas organizadoras de eventos são grandes responsáveis por esta deterioração, e, veja-se, ainda recebem compensações financeiras das Câmaras Municipais, que as aplaudem, e o Parque Natural da Serra da Estrela, inerte, nada faz, nada diz, mesmo com a Serra a sangrar de aflição com as atrocidades que lhe provocam.
Os presidentes das Câmaras Municipais provam não estar conscientes dos efeitos nefastos que as opções que têm vindo a assumir causam à Serra da Estrela. Não temos dúvidas em afirmar que não merecem estar integrados. A avaliação que tivemos a oportunidade de fazer, in loco, veio confirmar, que os riscos aumentaram substancialmente com a aposta das Câmaras Municipais, neste caso concreto, a de Manteigas, através do balizamento de uma série de percursos em áreas extremamente sensíveis, onde nunca deveriam ter sido erguidas. O Património Natural da Serra da Estrela não pode ficar sujeito aos impulsos de quem pensa que sabe e domina o que gente especializada considera complexo, para deleite promocional. A Serra é demasiado importante e interessante para que a ignorância tome conta dela.
Não sendo algo inesperado o confronto que tivemos com a realidade, deixou-nos ainda mais apreensivos a alteração acelerada do coberto vegetal, que só aconteceu pela criação e sinalização recente de alguns percursos, que contribuíram para o aumento da carga e pressão do pisoteio, não obstante o treino e a competição de provas desportivas. A ASE não deixará de avaliar os riscos resultantes do investimento e das práticas que têm vindo a ser promovidas e tomar as medidas que julgue por convenientes, inclusive, junto de instituições internacionais que, para evitar danos que se reflictam negativamente na imagem da região e do país, não foram ainda chamadas à questão.
Apelamos a uma reflexão profunda sobre o que tem vindo a suceder na área do Planalto Superior, mas não deixamos de concluir este rescaldo do Estrela Livre com aquilo que nos faz olhar em frente, crendo que há esperança para o futuro da Serra da Estrela:
“Obrigada pela vossa amabilidade, atenção e disponibilidade. Gostamos muito de vós conhecer, e conhecer a associação.” (Ana e Fábio)
“Maravilha de caminhada na Serra da Estrela! Dura, exigente, mas de uma grande beleza! Parabéns à Associação dos Amigos da Serra da estrela,(ASE), a entidade organizadora deste evento.” (Paulo Mazzetti)
“Aproveito para vos dar os meus parabéns pela organização desta caminhada, que foi excelente!” (António Campos)
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