2025-05-07
Palavras chave
icnb parqueQuando se quer controlar tudo, burocratizando-se o que poderia ser simples, dá asneira e o resultado nem sempre é aquele que se esperava que fosse conseguido.
É o que acontece com a legislação que regula as actividades de animação turística nas Áreas Protegidas reguladas pela Portaria nº 651/2009 de 12 de Junho do MINISTÉRIOS DO AMBIENTE, DO ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO E DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL E DA ECONOMIA E DA INOVAÇÃO, nos quais se define um Código de Conduta das empresas de turismo de natureza, bem assim como ao pagamento de uma taxa.
Os responsáveis pela imagem que acompanha o presente texto estão em incumprimento com as normas que subscreveram aquando do registo para poderem desenvolver as suas actividades dentro do PNSE. Práticas de incumprimento têm-se revelado uma constante por parte das empresas de animação de turismo de natureza (e outras) que têm operado na área do Parque Natural da Serra da Estrela. Bastar-nos-á aceder às páginas e promoções dos produtos turísticos que vendem para que as dúvidas que pudessem subsistir se desvaneçam.
A ASE defende que as empresas devem poder actuar como qualquer cidadão, com total liberdade para desenvolver as suas actividades, sem necessidade de burocracias adicionais. Do mesmo modo, deverão responder e ser responsáveis caso não cumpram com as regras que devem ser definidas, de forma clara e concisa, pelo Parque Natural da Serra da Estrela. No pacto social das respectivas empresas, estas já ficam obrigadas ao cumprimento do objecto social, podendo ser penalizadas se o transgredirem. Talvez por isso não encontramos qualquer lógica na suposta fiscalização por parte do ICNF, que pretende duplicar o controlo. Mais eficiente seria uma melhor definição de regras e a necessidade de as mesmas serem compreendidas por todos, sem excepção, para que possam cumprir – empresas, cidadãos indivuais ou grupos.
A Serra da Estrela tem problemas profundos ao nível da erosão. A empresa autora da ilustração que acompanha este artigo, violando o Código que assumiu respeitar, não está proibida de subir a um poio para ganhar altura e tirar fotografias. Mas não foi apenas isso que fizeram e, infelizmente, reconhecemos que as suas acções revelam a insensibilidade para as necessidades de protecção e conservação que a Serra tanto precisa. Infelizmente, o registo deste momento grandioso decorreu porque, à semelhança de tantos outros, estes protagonistas desconhecem as consequências de uma condução fora das vias destinadas a veículos. Os prejuízos causados no Património Natural da Serra da Estrela (e qualquer que seja o património em causa) constituem fortes ameaças à biodiversidade, promovem a erosão e não acrescentam nada ao turismo sustentável que se pretende desenvolver na região. Não se deve dar tréguas a todos quantos pensam que a Serra é terra de ninguém, não reflectindo sobre as possíveis consequências das suas acções. Hoje em dia, cada um pode fazer o que lhe apetecer e não precisamos de ir mais longe, pois além de fazerem o que querem, ainda divulgam livremente o que devia ser imediatamente punido.
Se em vez de códigos e burocracias desnecessárias se facilitasse a vida às empresas e aos cidadãos, desenvolvendo junto dos locais uma pedagogia que lhes fizesse sentir o papel que podem ter na preservação do património e no desenvolvimento sustentável de que podem ser os principais beneficários, teríamos cidadãos mais responsáveis, mais interventivos e significativamente mais vigilantes. Como no advento do Parque Natural o discurso foi relativo a uma administração moderna mais participativa, mais voltada para os naturais que, diga-se, mantiveram mais conservada a Serra da Estrela do que está hoje, depressa se constatou que o poder é um peso difícil de contrariar.
Como acontece em quase tudo que não é bem feito e começa a correr mal, em vez de se reflectir sobre as alterações necessárias que conduzam a uma mudança positiva, surge um trunfo na manga de um Secretário de Estado, por sinal, autarca, e toca de criar uma grande “congestão” no processo. É com muita tristeza que concluímos: estes tempos não são fáceis para a Serra da Estrela.
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