Revista Zimbro
by Amigos da Serra da Estrela
 

2025-04-15

Um caso exemplar… de má gestão

Um caso exemplar… de má gestão

 

Palavras chave

planeamento  verdelhos  
 

O caso que transcrevemos foi-nos enviado por um cidadão que promoveu diligências junto de diversas entidades e instituições.

“Chamo-me João Caetano, tenho uma quinta na zona das Sarnadas (freguesia de Verdelhos) concelho da Covilhã. Nasci nessa quinta e desde muito pequeno trabalhei no campo fazendo todo o tipo de tarefas agrícolas e guardando cabras e ovelhas. Como não tínhamos grandes condições de vida e pelo facto de sermos oito irmãos o meu pai sempre nos incentivou a sair de lá e procurar uma vida com menos sacrifícios. Assim fiz e com apenas 13 anos fui para longe dos meus pais trabalhar para Lisboa. Mas como gosto muito do campo e do sítio onde nasci voltei para verdelhos para poder estar mais perto da quinta e ajudar os meus pais na mesma. Com o avançar da idade o meus pais saíram de lá e foram para o lar ficando eu a tratar da quinta. Apesar de ter outra atividade continuo a ser agricultor e há 15 anos que trato da quinta. Em 2022 no grande incêndio da Serra da Estrela a quinta ardeu quase por completo,apenas foi possível salvar as casas de habitação, apesar disso com muita coragem tenho continuado a cuidar dela tendo já recuperado dois barracões agrícolas que tinham ardido. Queria dedicar-me a tempo inteiro à mesma fazendo mais agricultura e fazendo criação de animais. O problema principal é que não tenho energia eléctrica, existe na quinta ao lado que dista apenas 1300 metros e apesar de já ter pedido ajuda a vários entidades(junta,câmara da Covilhã etc..)o problema ainda subsiste.

Mapa um caso exemplar de má gestão

Penso que também está na génese da criação do parque natural da Serra da Estrela a necessidade da preservação de algumas  atividades económicas que são praticadas desde sempre,nomeadamente a pequena agricultura e o pastoreio de animais, ora para isso acontecer os poderes públicos devem proporcionar algumas condições que são básicas para que pessoas que sabem e tem vontade continuem a praticar estas atividades que também são a razão de ser do parque natural da Serra da Estrela. Como tal venho pedir a V. Excelências ajuda para que a electricidade chegue até à quinta onde se situa a minha exploração agrícola(quinta da Tapada).

Desde já agradeço a vossa melhor atenção.”

Por razões que vão entender, esta questão diz-me directamente respeito, como tal não posso fugir à pessoalização do texto, à margem do cargo que detenho na ASE.

O meu parque de campismo esteve muitos anos sem estar licenciado e sem energia. O processo culminou depois de uma reunião na Direcção Regional de Agricultura, em Caastelo Branco. Tinha-se aberto uma probabilidade de poder vir a ter energia que para o caso aqui tratado pouco importa.

Tinha uma grande preocupação com a energia. Pessoalmente e tendo em consideração o potencial de clientes que tinha como expectativa, a energia era fundamental mas a iluminação pública um problema. Depois da reunião fiquei aliviado porque o, simpático Engenheiro que me recebeu fez a seguinte afirmação: “o senhor Saraiva fique tranquilo porque nós apenas garantimos o fornecimento de energia”. A minha satisafação foi de tranquilidade por sentir que se estava a efectivar o sonho. Entre o Parque de Campismo e a localidade de Verdelhos não existia fornecimento de energia a nenhum vizinho e eram, na altura 4, hoje apenas 1 se mantém activo apesar dos seus 90 anos.

Tratei de resolver o problema, incluindo no meu projecto todos os vizinhos, aos quais fui dizendo que não iriam ter nenhum poste com luz à porta, condição perfeitamente aceite. Foi um projecto a fundo perdido no valor de 50.000€, 10.000 contos.

Durante uma longa ausência, por razões profissionais recebi, com espanto, um telefonema do meu filho a informar que a empresa que estava a instalar a rede eléctrica, também estava a aplicar as luminárias nos postes ou seja a iluminação pública que me tinham garantido que não fariam! As averiguações que fiz levaram a concluir que o que era um projecto rural, passou a transformar-se num projecto autárquico pela intervenção directa da Câmara da Covilhã.

O resultado está à vista. Um vale que tinha um potencial para ser observado à noite, passou a ficar iluminado em grande parte, chegando quase ao Poço do Inferno com a agravante de não viver viva alma na rede que foi iluminada.

Pela minha parte procurei resolver a situação pedindo zelosamente para não mudarem as lâmpadas, mantendo-se o ambiente tão natural quanto foi possível. Claro que negativamente influenciado pelas luzes, que já não me deixam, tal como aos turistas que procuram o parque de campismo o Corpo Celeste em toda a sua plenitude – estragaram-me o negócio!

Por outro lado, o dinheiro gasto na energia que é gasta sem sentido poderia ser aproveitado para levar a energia ao João Caetano e a outros agricultores e pastores que ainda estão em actividade, em vez que terem parado com o último poste de energia, na casa de campo do senhor doutor e, até esta, já não do senhor doutor.

Mas, razões ainda mais fortes e que têm vindo a escapar à falta de sensibilidade dos autarcas, é a alteração que a expansão da luminusidade artificial para além dos povoados, está a causar na fauna silvestre. Os animais selvagens têm a sua principal actividade no período noturno e no amanhecer. Ora, com o aumento dos espaços naturais pela luzes estamos cada vez mais a reduzir os espaços de que os animais precisam para viver.

Não foi por acaso que surgiu um movimento a nível mundial que defende o direito ao Corpo Celeste, sem a interferência de elementos que o limitem. AS Penhas da Saúde, as Penhas Douradas, a Torre e tantos outros espaços são, presentemente o oposto daquilo que deve ser defendido.

É tempo de inverter esta realidade, até porque sai cara aos portugueses!

 
 

 
 
 
 

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