Revista Zimbro
by Amigos da Serra da Estrela
 

2025-03-17

NEVESTRELA vs. ASESTRELA

NEVESTRELA vs. ASESTRELA

 

Palavras chave

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O ASESTRELA 25 parece ter promovido alguns equívocos relativos ao contexto histórico do NEVESTRELA que, posteriormente, deu origem à actividade que se realiza nos dias de hoje – o ASESTRELA. Não existindo nenhum relato dos factos, tal como os mesmos sucederam na altura, decidimos recuar uns anos e descrever estas duas actividades invernais desde o seu nascimento.

No passado dia 22 Fevereiro 2025, a ASE fez 43 anos. Em Agosto de 1982, ano de fundação da Associação, a ASE promoveu uma iniciativa designada “Primeira Travessia Unhais-Manteigas”. Nesta travessia, estiveram presentes alguns associados do Clube de Montanhismo da Guarda, entre os quais o seu Presidente Vítor Baía. O acampamento desta actividade realizou-se no campo de futebol da vila serrana de Unhais da Serra, onde hoje está implantada, do ponto de vista da Associação, uma das melhores unidades hoteleiras da Serra da Estrela, o H2Otel. Denota-se que, por este motivo, esta entidade foi a primeira a receber o galardão “Cristal de Gelo”, com que a ASE procura distinguir empresas ou individualidades que se destacam pela sua atitude e singularidade relativamente à conservação da Serra da Estrela. De facto, é preciso ter-se visão para compreender a importância da construção de uma unidade hoteleira numa aldeia, ao invés da mesma ser construída no meio da natureza.

Durante o convívio deste acampamento, José Maria Saraiva e Vítor Baía tomaram um café no restaurante “O Cortiço” e, sentados à mesa, reflectiram sobre a montanha e o montanhismo em Portugal. Numa coisa estavam de acordo: ambos consideravam que o ambiente entre os clubes de montanha não era o desejável e acharam que seria do maior interesse para todos que se promovesse algo que os aproximasse entre si. Para tal, nada melhor que promover uma iniciativa organizada não por um, mas por dois organismos – algo inédito até então. Daí nasceu a iniciativa do NEVESTRELA, um evento invernal de montanha, organizado entre a ASE e o CMG. Nesse café, rabiscaram vários nomes na toalha de papel que estava sobre a mesa d’O Cortiço, de onde resultou o nome do evento, assim como a data e o local para a sua realização, o Covão d’Ametade.

No Carnaval de 1983, de 12 a 15 de Fevereiro, deu-se, então, a primeira actividade conjunta entre estas duas entidades, que resultou no primeiro destes eventos – o NEVESTRELA de 1983, contando com algumas dezenas de montanhistas. A iniciativa, neste primeiro evento, contou com a colaboração do PNSE – Parque Natural da Serra da Estrela, a Missão Regional de Turismo da Serra da Estrela, a Direcção Geral dos Desportos e o CNAM – Comissão Nacional das Actividades de Montanhismo.

O NEVESTRELA não só foi, durante 25 anos, a maior actividade invernal de montanha do país, como a única que conseguiu que a sua realização se desse por duas entidades durante este período. Ao longo desse tempo, a história do evento presenciou duas rupturas, as quais descrevemos de seguida.

Uma primeira, relativa ao afastamento tanto da ASE como do CMG da Federação Portuguesa de Campismo e Caravanismo, a que ambos estavam filiados, por esta ter assumido unilateralmente uma posição, sem que tivesse consultado os seus filiados previamente. Neste caso concreto, estava em causa a proibição, por parte do PNSE de se acampar no Covão d’Ametade. Esta entidade tinha sido, curiosamente, responsável por destinar o Covão d’Ametade como local de acampamento para o evento organizado, precisamente, pela ASE e pelo CMG.

A segunda ruptura deu-se, então, com o Parque Natural da Serra da Estrela, pois a sua liderança relativamente à situação descrita no parágrafo anterior definiu-se em função de uma assistente social, incapaz de alguma vez demonstrar que o NEVESTRELA constituía uma ameaça para aquele espaço. A actividade era realizada numa época em que a natureza se encontrava em fase hiberna e, consequentemente, era praticada, na sua totalidade, sob neve, estando a limpeza a cargo da organização. Tais constrangimentos fizeram com que, nalguns anos, o NEVESTRELA se realizasse noutros locais, como o Covão da Mulher, as Candeeirinhas ou, até mesmo, a estrada da Serra de Baixo (aqui sim, contra as regras impostas pelo Parque Natural da Serra da Estrela). Por fim, havíamos regressado ao Covão d’Ametade, contrariando a vontade Parque Natural da Serra da Estrela.

Compreendemos que numa organização que chegou a contar com mais de 700 participantes, que os seus organizadores, naturalmente, se sentissem cansados. A promoção de uma mesma iniciativa, num mesmo espaço, ao longo de 25 anos, era uma realidade que originou um acordo escrito entre a ASE e o CMG, que interrompia o NEVESTRELA por tempo indeterminado, o que impedia qualquer um deles de promover o NEVESTRELA sem o consentimento da outra parte.

Para a ASE, que está sediada em Manteigas, colocava-se uma questão para a qual era preciso dar resposta: o Covão d’Ametade tinha sido um espaço reservado para as actividades de montanha do NEVESTRELA na data específica do Carnaval, pelo que não se pretendia que outras entidades se aproveitassem daquele lugar, ocupando-o com outras actividades que, essas sim, pudessem pôr em causa a natureza e a conservação do local. Infelizmente, após a interrupção do evento, este cenário pôde verificar-se inúmeras vezes ao longo dos anos (e.g. no encontro dos motards dos Lobos da Neve, onde se chegaram a juntar mais de 200 motas em simultâneo, entre outros). Nessas ocasiões, que se perpectuam ainda nos dias de hoje, verifica-se que os ocupantes do espaço não possuem a sensibilidade necessária para uma utilização adequada do Covão d’Ametade. De facto, o NEVESTRELA, além de ser organizado por dois organismos da região, era planeado e preparado em função dos cuidados necessários a ter no Covão d’Ametade do ponto de vista ambiental. Se o NEVESTRELA foi obrigado a mudar de local por motivos de ameaça àquele espaço, o que se veio constatar é que a sua retirada proporcionou, justamente, o cenário que se temia – a utilização do mesmo local por indivíduos alheios às necessidades naturais do Covão d’Ametade e, consequentemente, a sua desvalorização. Do mesmo modo, não consta que o Parque Natural da Serra da Estrela tenha feito algo para o evitar.

Desta feita, o ASESTRELA veio procurar ocupar o mesmo espaço, sem pretender substituir-se ao NEVESTRELA. O assumir de responsabilidades pelo Covão d’Ametade por parte de outras entidades que não o PNSE (e.g. baldios), levou a ASE a procurar valorizar outros lugares da Serra da Estrela. De qualquer modo, desde a interrupção do NEVESTRELA e consequente realização do ASESTRELA, a ASE sempre teve como princípio que, na possibilidade de realização de mais um NEVESTRELA, o mesmo realizar-se-á em detrimento do ASESTRELA.

Denota-se, por fim, que no decorrer de mais de 40 edições entre NEVESTRELA e ASESTRELA, não houve qualquer acidente ou necessidade de proceder a evacuações. Todos os casos registados foram resolvidos pela organização, sem necessidade de apoios externos. O que podemos constatar é que o NEVESTRELA foi um verdadeiro encontro de todos aqueles que apreciam a montanha, por onde passaram milhares de montanhistas, entre os quais, alguns dos mais notáveis do país. O NEVESTRELA foi a prova de um espaço dignificado pela sua utilização, onde se fizeram grandes amizades e em que sempre se procurou a valorização da montanha e o que ela tem para nos oferecer. O ASESTRELA, por outro lado, é a continuidade do usufruto da montanha que a ASE continua a proporcionar, ano após ano, a todos os seus associados, na defesa pela Serra da Estrela e sua conservação.

 
 

 
 
 
 

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