Revista Zimbro
by Amigos da Serra da Estrela
 

2025-03-17

Não bate a bota com a perdigota

Não bate a bota com a perdigota

 

Palavras chave

 

Já tivemos o cuidado de escrever sobre as razões subentendidas à ideia da “Estrada Verde”. A estratégia de marketing que originou a designação desta via foi muito bem conseguida, porque, de facto, quase que faz parecer que é ecológica e amiga do ambiente aquela que será, talvez, a maior ameaça a um Património de interesse paisagístico singular.

Efectivamente, partindo do princípio que as estradas implicam a construção de elementos estranhos à Natureza, não há nenhuma que favoreça os espaços naturais. Há, no entanto, estradas que não podemos dispensar, enquanto outras surgem porque o homem é um ser insaciável que pensa primeiro nos seus desejos que no bem-estar das áreas naturais.

Às vezes, há espinhas que se atravessam nas gargantas. Foi o que aconteceu com as pretensões de se procurar abrir uma estrada da Guarda para a Torre, através da ligação à Lagoa Comprida. Como Seia é detentora do território entre as Penhas Douradas e a Lagoa Comprida, a ideia abortou. Felizmente, os Senenses reconheceram que este projecto não tinha fundamento e não podiam permitir que lhes desviassem os turistas de Seia para a Guarda e outras localidades do lado norte da Serra. Como isso não foi possível, a teimosia prevaleceu e, inclusive, a ex-Ministra Ana Abrunhosa, influenciada, por certo, pelos autarcas interessados na “Estrada Verde” considerou-a “estruturante para a região”. Agora, como se pode pode verificar pelo mapa que acompanha o texto, não se trata apenas de uma “Estrada Verde”, mas de várias.

É assustador esta visão do que é estruturante para o desenvolvimento da região da Serra da Estrela? Mas, como o grande incêndio de 2022, do qual arderam cerca de 30.000 hectares, foi uma excelente oportunidade para rechear os cofres dos Municípios afectados pelo incêndio, sai um Plano de Revitalização com dotação de milhões de € que procura dar vida a muita coisa, excepto, vejam bem, ao que ardeu…

Em 18 de Setembro de 2022, um mês após a ocorrência do fogo, em resposta ao anúncio do Governo de atribuição de grandes verbas para distribuir pela região, a ASE lançou um artigo que dava conta do título:

“PORQUE TEMEMOS OS MILHÕES?

Perante os anunciados milhões, que estarão envolvidos na recuperação da Serra da Estrela nos tempos que se avizinham, os nossos receios têm toda a legitimidade. Afinal, foi o dinheiro que deixou a Serra da Estrela no estado lastimável em que se encontra e não a falta dele. Estávamos a adivinhar o que viria a acontecer: dos muitos milhões para distribuir que constam do Plano de Revitalização da Serra da Estrela, uma insignificância – mesmo insignificante!, irá para o ambiente e para a conservação da natureza. O bolo, esse, irá para artificializar a Serra e, em grande parte, fora da Área Protegida.

A nossa preocupação, e para isso nos constituímos enquanto Associação cuja missão é defender o Património Natural da Serra da Estrela e a sua Conservação, é verificar que as medidas que constam do PRPNSE, estão a ser levadas à prática, sendo o maior ataque ao Património Natural alguma vez conseguido.

O Plano olha para os espaços naturais como possibilidades de ocupação com autênticos resorts, procurando preenchê-los com moradias. Consideram-se áreas demasiado espaçosas, com potencial para construção de casas e consequente aumento de turistas. É o mesmo que o Presidente da Câmara de Lisboa entender que a área do Parque de Monsanto é grande demais para as árvores que tem e, como tal, deve ser rentabilizada com a construção de infra-estruturas. A diferença é que o Presidente da Câmara Municipal de Lisboa não se atreve sequer a pensar nisso, enquanto os autores do PRPNSE têm o desplante de o propor, com investimentos públicos de 22.350.000,00€, mais 12.000.000,00€ de investimento privado. E diga-se de passagem, até parece que a nova Lei dos Solos se encaixa aqui na perfeição, ou não?

Mas vejamos o caricato disto tudo e até onde vai a ambição dos autarcas que não se cansam de olhar para a Serra como uma mina que precisa de pá e picareta, e não como um tesouro que precisa de cuidados especiais. Ao mesmo tempo que procuram investir na “Estrada Verde”, também anunciam uma barragem que, a efectivar-se, irá deixar submersa uma parte significativa da estrada, além de terem de reflectir muito bem sobre os “comos” relativos ao atravessamento do rio Mondego que, na zona da Senhora de Assedace, uma ponte de 10 metros de comprido será suficiente mas, com a barragem, terão de fazer uma passagem com 400 metros, conforme se pode constatar pelo mapa.

Se os autarcas que estão presentemente à frente dos Muncípios não querem ficar associados a toda a artificialização que se avizinha para a Serra da Estrela, repensem muito bem antes de prosseguir com os graves atentados que estão no Plano de Revitalização.

 
 

 
 
 
 

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