Revista Zimbro
by Amigos da Serra da Estrela
 

2025-02-07

O Deve e o Haver do Turismo

O Deve e o Haver do Turismo

 

Palavras chave

turismo  
 

De acordo com os dados que estão a ser revelados, Portugal importou, em 2021, mais 3.251,2 milhões de euros em bens agroalimentares que os 8.876,2 milhões importados em 2014. (1)

Com o discernimento necessário de que a melhor forma de promover o turismo é tratar e cuidar bem da qualidade da oferta do que se pretende “vender” enquanto produto turístico, temos vindo a procurar incutir na opinião pública, nomeadamente, no meio serrano, que o rumo que tem vindo a nortear as políticas do turismo para a Serra da Estrela não são as mais recomendáveis. Para obter melhor qualidade, mais sustentabilidade, maior desenvolvimento económico e aumentar o distanciamento à sazonalidade, é fundamental alterar, profundamente, as ideias enraizadas, e não pensar que o que tem de ser feito pode ser obtido nas páginas amarelas, como quem procura o conjunto que está na moda e faz mais barato, ou a empresa que pode abrilhantar melhor as festividades das urbes serranas.

Em simultâneo, talvez por acerto de contas do fim de ano, as notícias vão informando, com um peculiar tom de entusiasmo, que o nosso país recebeu mais de 30 milhões de turistas durante o ano em curso. Tal número equivale ao triplo dos habitantes registados em Portugal para o mesmo ano, 10,6 milhões. Nestas coisas da contabilidade, temos a tendência para realçar mais o que recebemos do que o que pagamos, provavelmente, porque quem beneficia do deve e do haver será em menor número que a enchente daqueles que irão suportar os custos dessa diferença reflectida na balança comercial do Orçamento do Estado.

Ora, se para alimentar a população portuguesa é necessário importar bens agroalimentares, será necessário, então, importar muitos mais para satisfazer essas necessidades, pelo menos, o triplo dessa população, considerando a presença dos turistas. Logo, vai ser necessário pagar mais ao estrangeiro, o que implica a saída de divisas, não melhorando a dívida que temos para com o estrangeiro.

Uma boa medida que podia ajudar a atenuar este diferencial seria inverter a tendência, produzindo mais internamente. Para isso, seria imprescindível que as políticas de apoio à agricultura familiar fossem uma realidade, na medida que cada saco de batatas que um agricultor produzisse fosse menos um a ser importado. Por outro lado, os campos deixariam de estar no estado de abandono que se verifica e à mercê do olhar atento dos produtores de pasta de papel. A paisagem ficaria beneficiada, para agrado de quem nos visita, face à degradação do estado em que se encontram os campos, mas também, e acima de tudo, porque os campos cultivados são o melhor antídoto para travar a evolução dos fogos ou mesmo dominá-los, com tudo o que isso implica para os custos que o seu combate tem nas finanças do país.

Se a promoção do turismo na região da Serra da Estrela considerar o melhor que esta tem para oferecer, o visitante sairá mais satisfeito e, certamente, um potencial publicitário. Há-que entender a tradicional paisagem do mundo rural, da conservação do Património Natural que originou a constituição da Serra da Estrela enquanto Parque Natural e, mais recentemente, Geopark. O apoio a todas as actividades que gerem produtos de qualidade, não ignorando o significado do Queijo da Serra (que acabou, mais uma vez, de ser premiado como o melhor do mundo), constituem razões para acreditar que todos os esforços neste sentido constituem um atestado de garantia sobre a oferta turística que desenhará, por sua vez, um futuro mais profícuo para as populações residentes, travando a sangria que se tem vindo a observar com a desertificação.

Na Europa central existem milhões de praticantes de caminhadas que gostariam de conhecer a Serra da Estrela. Mas, para que isso se torne possível, é preciso ir mais além. O acumular de rotas e trilhos por Município torna esta tendência de desenvolvimento uma medida cândida e, aliás, muitos dos anunciados não têm a mínima hipótese de sobreviver no tempo. Manteigas, por exemplo, já chegou a essa conclusão, deixando cair muitos deles pelo desinteresse a que estavam votados. Agora, basta que se reconheça esta lacuna e dotarmos a Serra das infra-estruturas necessárias que garantam a sustentabilidade e cativem estes, tão importantes, nichos de mercado.

 
 
 

 

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