2024-12-10
Palavras chave
caminhadas rotas trilhosA Serra da Estrela é percorrida, em parte, por duas Grandes Rotas: as GRs 22 e 33, respectivamente, a das aldeias históricas e a do rio Zêzere. Adicionalmente a estes dois percursos, a GR 45 – Vale do Rio Côa, que, mesmo não se situando na área da Serra da Estrela, merece idêntico tratamento pelas semelhanças nos critérios de implantação.
Grande Rota do Zêzere – GRZ33
Comecemos a nossa análise pela Grande Rota do Vale do Zêzere (GRZ33), que liga a nascente do rio (para o efeito foi escolhido ser o Covão d’Ametade), à sua foz, em Constância. Tratou-se do primeiro grande percurso do país destinado a acompanhar o leito do rio Zêzere com o propósito de poder vir a ser a espinha dorsal do desenvolvimento do turismo pedestre, numa zona carenciada do país.
Esta rota foi criada pela nossa Associação e apresentada aos diferentes Municípios que incorporam a sua bacia hidrográfica numa primeira reunião realizada em Cambas, em 2007, e, posteriormente, numa outra, em Pedrógão Grande.
Quando se deu esta apresentação, houve da nossa parte o cuidado de chamar a atenção para o facto deste processo necessitar da participação de todos os agentes locais por onde o percurso fosse desenhado. Por um lado, para promover a envolvência das comunidades locais bem como a sua participação no projecto (até por razões de segurança e de manutenção do caminho); e simultaneamente, procurou-se realçar a importância do percurso acompanhar o leito do rio, evitando desvirtuar a essência da rota, fazendo com que se procurasse deslocá-lo para as localidades. Para este efeito propúnhamos que cada localidade encontrasse a melhor forma de criar percursos radiais, com o objectivo de atrair os caminhantes para os serviços de apoio (turismo, alojamento, restauração, eventos, património natural, cultural, social, etc.). Deste modo, os próprios Municípios responsabilizar-se-iam pela promoção da GR, um ponto de partida e/ ou chegada para os potenciais caminhantes.
Na mesma apresentação, a ASE fez questão de referir um outro detalhe não menos interessante: a valorização do percurso através de pequenas obras de arte, entre elas, os atravessamentos do rio, através de pontes suspensas e outros trechos de passagem que abundam ao longo da do Vale do Zêzere. Da mesma maneira, era necessário ter em linha de conta o potencial paisagístico paisagístico, apelando para que se fizesse um esforço no sentido de repor a galeria ripícola, substituindo o horror de eucaliptos que marginam o rio em grande parte do traçado.
Congratulamos o esforço da equipa que se encarregou de fazer a candidatura ao projecto, sete anos depois da nossa primeira apresentação, desde logo, pelo facto de ser a primeira grande rota. Todavia, a realidade é que, além da ideia que passámos numa primeira instância, nada mais foi retido e tendo em conta as potencialidades do trajecto ao longo de todo o Vale do Zêzere, o resultado não podia ser mais desolador. De facto, a GR33 deverá de ser profundamente repensada e com ambições além fronteiras. É preciso que os actuais 370 quilómetros se aproximem dos reais 200 que o rio tem. Esta distância é passível de poder ser feita numa semana enquanto a actual distância precisa do dobro do tempo. Em termos promocionais e para as empresas é significativa esta disparidade.
Se a implementação do projecto tivesse contemplado a ousadia de que é merecedor (e não jogar a medo, fruto do orçamento de mais de um milhão de euros envolvidos), estaríamos perante uma obra digna e rica da utilização dos seus visitantes. Mas que dizer sobre este assunto quando constatamos o “investimento” de mais de 4 milhões que se gastaram nos 7 quilómetros de passadiços no rio Mondego…
Se a população for ouvida e convidada a participar, até para que o percurso seja redefinido e melhorado (ninguém melhor do quem vive na região para o fazer), é facilitado o processo de manutenção da infra-estrutura, assim como o estado de conservação da mesma. Qualquer Junta de Freguesia tem reunidas as condições para garantir a manutenção de dois ou três quilómetros, até como meta concorrencial na melhoria da oferta que, diga-se de passagem, seria um excelente pretexto.
Grande Rota das Aldeias Históricas – GR22
Apesar das muitas dificuldades com que se deparam as aldeias em Portugal, nomeadamente, com a desertificação humana, as autarquias têm vindo a desenvolver esforços numa tentativa de recuperar o seu património e de as promover, em particular, do ponto de vista do turismo. Tem sido assim como os projectos das aldeias de Xisto, Das aldeias Históricas e, mais recentemente, das aldeias de Montanha. É uma tarefa árdua e nem sempre compensatória, pois a tentativa de recuperar uma localidade deserta para lhe dar vida é como ter um corpo embalsamado.
A Grande Rota das Aldeias Históricas – GR22, insere-se nesse propósito da promoção das Aldeias com esta designação, entre elas: “Almeida, Belmonte, Castelo Mendo, Castelo Novo, Castelo Rodrigo, Idanha-a-Velha, Linhares da Beira, Marialva, Monsanto, Piódão, Sortelha e Trancoso. As 12 Aldeias Históricas de Portugal estão localizadas no interior Centro de Portugal, distribuídas por 10 municípios – Almeida, Arganil, Belmonte, Celorico da Beira, Figueira de Castelo Rodrigo, Fundão, Idanha-a-Nova, Meda, Sabugal e Trancoso.”
Para o efeito, foi criado um Consórcio que envolve agentes públicos e privados com a gestão delegada na Associação de Desenvolvimento Turístico “Aldeias Históricas de Portugal”, criada para o efeito e que tem a sua sede em Belmonte. A sua missão é, precisamente, dinamizar a todos os níveis a riqueza patrimonial e humana existente nas 12 aldeias, para que todo esse esforço resulte numa mais-valia que motive o retorno das populações através das múltiplas iniciativas. Estas iniciativas, por sua vez, procuram incentivar através da procura de um melhor desenvolvimento económico e social para os seus residentes.
Pensaram os seus responsáveis que uma Grande Rota com as características da GR22 seria mais um elemento positivo que contribuísse para alavancar os propósitos que os move, de promover turisticamente as Aldeias Históricas, aqui em particular, através de uma rede pedonal e ciclovia. É aqui que divergimos, considerando que não será com uma infra-estrutura com o desenho que lhe foi dado, a melhor forma de projectar e enriquecer as Aldeias Históricas.
Não nos parece razoável que se tenha investido tanto tempo e dinheiro numa rota com cerca de 600 quilómetros, com o propósito de levar potenciais turistas a visitar as 12 aldeias envolvidas. Seria de ponderar um investimento destes, se as aldeias não estivessem bem servidas de estradas, o que não é o caso.
Por outro lado, o pedestrianismo em Portugal é bastante e, mesmo este, sem grandes recursos para investir na generalidade dos alojamentos das Aldeias Históricas. Para percorrer os 600 quilómetros, cada caminhante precisaria de quase um mês sempre a caminhar e a fazer 25 quilómetros por dia. Ainda que optassem por dar a volta pelas 12 aldeias por etapas, aproveitando, por exemplo, os fins-de-semana, seriam necessários mais de 3 meses, o que não nos parece estar nos horizontes daqueles que se pudessem interessar por estes lugares. Infelizmente, parece que Portugal ainda está distante da realidade das caminhadas e das características dos seus praticantes, cuja tradição por esta prática vem, muitas vezes, de nascença e com possibilidade económica de enriquecer as unidades de alojamento por onde passam.
Do mesmo modo, também não vemos que haja interesse para os ciclistas, embora reconheçamos que se trata de uma área que dominamos menos. Do que nos tem sido possível observar, e do que temos concluído junto de locais de algumas destas aldeias, quer os amantes do pedestrianismo, quer os amantes do ciclismo, não têm tido reflexo significativo na dinâmica e na economia das aldeias da GR22.
O que nos parece que deveria ter sido feito é completamente diferente da realidade que foi criada. Uma vez que é possível aceder a todas as aldeias por estrada e estas se encontram bem referenciadas, o investimento devia incidir em percursos circulares nas próprias aldeias, através de um minucioso estudo, para que pudessem ser interessantes sobre todos os aspectos. Se assim tivesse acontecido, as aldeias ficariam dotadas de infra-estruturas que possibilitariam aos visitantes conhecer mais e melhor a geografia da aldeia, bem assim como permitir a sua permanência mais prolongada, beneficiando assim todas as partes.
Criar percursos até 15 quilómetros é fácil e mais fácil a sua gestão, que não precisa de profissionais especializados e pode ser executada pelas Juntas de Freguesia de cada aldeia. A ASE considera, então, que os responsáveis pela gestão deste projecto, devem procurar, naturalmente, a melhor solução para que as Aldeias Históricas almejem o dinamismo que, estamos conscientes, é o mote que norteia quem lhe deitou mãos à obra.
Grande Rota do Rio Côa – GR45
O vale do rio Côa reúne todos os predicados para criar em quem por ele caminha a noção de estar a viver momentos inimagináveis, de um regresso ao passado porque, das vertentes que o marginam à envolvente que o domina a rusticidade mantém-se inalterável. É uma viagem no tempo com história! Apesar de tudo isto o percurso pecou pelo mesmo defeito que já tinha sido feito com a GR 33, a intenção de o afastar do leito para o aproximar de algumas localidades. É um situação que poderá ser corrigida sem grandes complicações.
A contrário da GR do Vale do Zêzere, onde existem algumas albufeiras que criaram uma série de reentrâncias que obrigaram ao afastamento do leito, o rio Côa apenas tem a barragem do Sabugal, localizada muito próximo da nascente, afectando pouco o percurso junto ao leito. Tem a particularidade de possuir ao longo das suas margens caminhos agrícolas muito próximos do rio, revelando um património riquíssimo sobre o sistema de irrigação tradicional que, embora abandonados, se mantêm, genericamente, em bom estado de conservação.
A Galeria ripícola do vale do Côa é rica, os carvalhais, apesar de sujeitos a intensos e constantes incêndios mantêm-se ao longo do, dominante, maciço granítico. Felizmente, e talvez pela falta de solo ou partilha da propriedade, o vale do Côa ainda se vê privado de eucaliptos e, oxalá, assim continue.
É uma pena que não se tenha trabalhado mais na procura de aproximar a rota do rio, através da construção de veredas que pouparia ainda mais alguns quilómetros ao percurso, garantindo ainda mais qualidade àquela que já possui.
Se o rio tem uma extensão de 135 kms, não tem sentido que a rota possua 196, mais 60 que o rio. Faz toda a diferença poder caminhar durante 5 dias para percorrer rota, entre a nascente e a sua foz ou ter de andar mais 3 dias, 8 no total para a fazer. As empresas que se dedicam a desenvolver as suas acções junto dos públicos alvo, sabem muito o que isto representa esta diferença. Uma coisa é vender um produto para 5 dias, bem diferente é aplicar-lhe mais 3 dias.
Pensamos que a informação técnica que consta da página digital, deveria merecer uma melhor atenção. Não nos parece que para percorrer 196 kms se indique serem necessários 10 a 15 dias e que estes tenham como grau de dificuldade: difícil a muito difícil. Numa rota de 196 quilómetros que tem um desnível de 1.000 metros terá sido a distância a dar a origem à dificuldade e não o traçado. Ora, não nos parece que deva ser assim.
Temos de reconhecer que o trabalho que foi desenvolvido para a promoção digital das três rotas é excelente e estão de parabéns as equipas que o fizeram.
Para finalizar há uma outra, potencial rota que tem todos os ingredientes para via a ser das mais interessantes do país. Ou melhor, da Península Ibérica. O vale do rio Águeda, é fabuloso e tem a particularidade de ser um rio de fronteira, o que poderia dar para ser circular e composto por vários troços, apoiado nas localidades de ambos os lados dos país, também estas a lutar contra a desertificação. O Turismo pedestre poderia ser uma ajuda para as raias.
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