2024-12-10
Palavras chave
casas manteigas territorioA ASE tem inscrito, num pórtico, na sua propridade na Ribeira, Vale do Zêzere, um texto que começa com a seguinte frase, que tem quase 40 anos: “O PNSE não é o Vale do Zêzere mas, sem o Vale o Zêzere não há Parque!” Continuamos a pensar assim.
Na opinião da nossa Associação, o Vale do Zêzere foi, desde a sua inserção no Parque Natural, um processo fácil de conservar, se tivesse havido sensibilidade, conhecimento e quem ousasse trabalhar para que assim fosse. Infelizmente isso não se verificou por parte do Parque Natural e muito menos pela Câmara Municipal de Manteigas que, do nosso ponto de vista não precisaria de estar dentro de um Parque Natural para que o Vale glaciário do Zêzere estivesse protegido, e não está.
Em Agosto de 1986, o Notícias de Manteigas publicou um estudo feito pela ASE com a caracterização do estado das construções rústicas do Vale do Zêzere. Nesse levantamento apurava-se que existiam, entre a Albergaria e a Fonte Santa 152 cortes. Destas, 81 situavam-se na margem esquerda do rio Zêzere e 71 na margem direita. Foi ao pormenor de caracterizar o conjunto das construções, informando que 69 mantinham um bom estado de conservação; 33 em ruínas; 15 com cobertura em zinco; 27 com telha vermelha; 4 rebocadas a branco e telha vermelha; 1 em blocos de cimento e telha de cimento preta e, por último 1 em blocos com terraço em cimento. Infelizmente, a situação no Vale glaciário do Zêzere não ficou melhor, bem pelo contrário piorou bastante, atrolepalando o Regulamento do Plano de Ordenamento do Parque Natural da Serra da Estrela – POPNSE e o Plano Director Municipal de Manteigas – PDM.
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Sem uma informação clara que não deixasse dúvidas foi-se alimentando a ideia de que os donos dos terrenos poderiam construir, com sugestões tão singelas como: se o Parque deixar por nós (Câmara) não há problema, incitando os interessados a olhar para o Parque Natural como o empecilho, direccionando a responsabilidade (para não dizer a raiva), para a Área Protegida! Chegou-se ao cúmulo de ter havido um presidente da Câmara Municipal de Manteigas, a autorizar, em folha A4, com o timbre do Municipio uma construção de raíz! Mas muitos mais casos existem neste vale e que devia fazer corar de vergonha todos quantos colaboraram e continuam a manter tal realidade. Manteigas, pelo seu passado histórico, merece muito mais. Os interesses moveram-se pelo vale, sem a mínima preocupação para com a preservação do seu património e da paisagem. Basta ver como se promove o turismo, através das redes sociais, ao arrepio das mais elementares regras, penalizando quem o faz legalmente.
Um pequeno terreno agrícola com uma corte, mesmo em ruínas, é um apetite para os novos ricos que gostavam de ter uma casa num vale, com este que faz o Parque Natural mais importante. Mas, também Manteigas se revê nele e tudo pode reverter-se, banalizando-se o que pode ser diferente e interessante, se não se souber cuidar do seu legado. E isso não tem vindo a acontecer e vai ser cada vez mais difícil por aquilo que se observa, se não houver coragem para informar as pessoas que não podem fazer naquilo que é deles o que lhes apetece!
Se uma determinada família possuia um terreno com uma corte, que foi passando de geração em geração, porque o seu destino era dar apoio às actividades agro-pastoris e agora os seus descendentes multiplicaram-se, têm mais dinheiro no bolso em resultado da emigração para onde as dificuldades os obrigaram a ter de partir, não devem pensar que podem ter uma corte cada um.
O que pensamos que deve ser feito é a promoção do diálogo com todos os proprietários, demonstrando-lhes que o património que detêm faz parte de uma riqueza que lhes foi legada, cujos fins estão perfeitamente definidos no registo predial e na práxis que os próprios viveram, pelo que qualquer outra actividade não tem razão de ser num vale com o significado e a importância que tem para toda a região e, fundamentalmente para Manteigas. Esta deve ser a regra básica. Para isso se elaborou um POPNSE e um PDM.
Outra questão é, o que fazer com o património e como ajudar os seus proprietários de maneira a que não fique abandonado e os seus donos sejam beneficiados para que seja mantido e valorizado.
Como o dinheiro conta muito na vida das pessoas e as forças vão faltando para prosseguir com a tradição deixada pelos pais, com os descendentes mais novos, eventualmente com outros horizontes e visões do futuro que não passam pela continuidade dos ansestrais costumes, nada como as imobiliárias para lhes facilitar a vida. Como o fazem, talvez obrigasse a uma reflexão, quer do PNSE quer dos vários Órgãos Autárquicos para salvaguardar os incautos interessados em ter uma “chalé”, no Vale glaciário do Zêzere, de que transcrevemos parte da publicidade:
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“DESCRIÇÃO GERAL:
Localizada em Manteigas, no centro dum vale outrora moldado durante milhares de anos por um glaciar, encontra-se uma quinta composta por dois terrenos com vistas desafogadas para as montanhas.
A mesma dispõe de uma ampla frente para a estrada N338 que, ao ser percorrida permite uma visão imensa, da zona campestre-florestal tendo a vila de Manteigas como ‘pano de fundo’.
Este é um espaço privilegiado no meio da paisagem verdejante e serena, ideal para o aproveitamento do sol e para a sensação de tranquilidade que a proximidade com a natureza transmite.
Para além do mais o Vale do Zêzere pertence ao Geoparque Estrela, que por sua vez é classificado pela UNESCO.
DESCRIÇÃO DETALHADA:
Quinta:
> Os terrenos são divididos por um caminho público;
> Próxima da nascente do Rio Zêzere, desfruta por isso da sua água pura cristalina, na confrontação a Este;
> Possui uma pequena habitação;
> Possibilidade de estacionamento exterior.
Região:
> Os caminhos da zona são uma excelente opção para passeios familiares ou realização de exercício físico;
> Usufrui de uma vizinhança simpática constituída por pequenas casas e terrenos de cultivo;
> Um dos acessos à quinta envolve a passagem por uma pequena e baixa ponte de pedra com espaço para dois carros.
Localização:
> Próximo de praias fluviais;
> A Norte, a 15 minutos encontra-se a vila de Manteigas com os principais serviços da zona: farmácias, minimercados, restaurantes, correios e multibancos;
> A Sul, a meia hora de viagem está a cidade da Covilhã conhecida pelo seu requinte e elevada qualidade
> Os aeroportos de Lisboa e Porto estão a 3h15m e 3h00m e os acessos à N18 e à A23 distam a 25km e 35km respetivamente;
Está convidado(a) para uma visita na minha companhia a esta bonita propriedade!
Categoria Energética: Isento
Parece-nos, que qualquer nova tentativa de envolvimento dos Manteiguenses na promoção para o concurso das 7 Maravilhas Naturais de Portugal, é puro gozo.
A nossa Associação sempre esteve disponivel para colaborar na procura das melhores respostas para que todos saiam beneficiados. Foi para isso que em 1983 se adquiriram as cortes, numa tentativa de demonstrar que seria possível recuperar sem por em causa o enquadramento na paisagem, dando melhores condições aos seus donos para as funções para que foram construídas. Temos perfeita consciência que não é isso que as nossas cortes transmitem! Mas, quando nos foi transmitido que a Câmara de Manteigas tinha enviado um ofício para o Parque Natural, a denunciar a nossa Associação por obras de reparação para colocar a palha na cobertura, é caso para dizer que a vontade de fazer coisas boas, morreu ali! Vamos procurar reverter este iato e arranjar energias para deixar o nosso património como sempre foi planeado.
Não temos qualquer dúvida que o simbolismo do Vale do Zêzere, enquanto Património Mundial da Unesco, não passa disso mesmo. Na realidade, é uma farsa.
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