Revista Zimbro
by Amigos da Serra da Estrela
 

2024-12-10

Entrevista Cineasta Carlos Peñalver

Entrevista Cineasta Carlos Peñalver

 

Palavras chave

entrevista  
 

Em 2021, Carlos Peñalver, cineasta galego e amante da natureza, passou uma temporada na Serra da Estrela com o intuito de construir uma obra de arte – o filme “À Procura da Estrela”. Para isso, o Carlos e toda a sua equipa rumaram a diferentes localidades da região, onde tiveram a oportunidade de conhecer a Serra da Estrela nas suas diferentes faces, desde o contacto com a comunidade local, ao contacto com a natureza e o clima que lhe está associado. Em simultâneo, reconhecemos que este projecto constitui um meio de promoção desta região, pela forma genuína como a mesma é descrita em cada cena. O misto entre realidade e ficção cativa qualquer espectador e foi o potencial desta obra, a par com a participação da ASE neste filme, que motivaram a entrevista ao Realizador, que transcrevemos de seguida.

 

1. O que é que vos motivou a fazer um filme na Serra da Estrela?

Queríamos fazer um filme sobre a forma como olhamos para o campo a partir das cidades. Os que nascemos num meio urbano tendemos a criar uma imagem doce e paradisíaca do que é a vida no campo, em grande parte por causa dos media. Eu queria fazer um filme que mostrasse uma forma de desmontar essa imagem.
A escolha da Serra da Estrela foi inicialmente fortuita. Queria ir para um meio rural onde ainda não tinha estado, para experimentar e analisar este olhar fascinado sobre o espaço. Quisemos também fazê-lo em Portugal, que é um território espelho para os galegos, a herança cultural que partilhamos cria uma curiosa familiaridade. Após alguma pesquisa e documentação, verificámos que a Serra da Estrela continha muitos elementos interessantes: A maior altitude de Portugal Continental, uma estância de esqui em processo de decadência, um imaginário mítico muito rico… Eram muitos os sinais de que era um bom sítio e lá fomos nós.

 

2. Quais foram os desafios que mais marcaram as gravações? O que é que a Serra nos pode ensinar?

Podemos dizer que o clima foi o maior obstáculo nas filmagens. Estávamos a filmar em abril e o filme foi maioritariamente filmado no local. No segundo dia, devido à chuva intensa, tivemos de alterar o nosso plano de filmagem, e ainda faltavam 25 dias! Gradualmente, aprendemos a incorporar a imprevisibilidade da meteorologia na produção do filme, o que resultou numa das mais belas caraterísticas do filme: o facto de o clima da montanha ser uma personagem do filme.

 

3. Como é que caracteriza a experiência com a população local?

Esta foi uma das partes mais enriquecedoras do processo de realização do filme. Tanto os que trabalharam como actores/actrizes como todos os que nos ajudaram na logística foram generosos connosco. Juntámos pessoas de Manteigas, Verdelhos, Gouveia, Vilanova de Tazem, Sabugueiro, Nelas… e trabalhámos com perfis muito diferentes, pelo que tivemos de personalizar a metodologia de trabalho com cada um. Eu diria que, graças a isso, o filme pode parecer que vem das montanhas, porque todas estas pessoas participaram ativamente na conceção das cenas e dos diálogos do filme. Queríamos que eles se representassem a si próprios, por isso tinham de ser mestres das suas palavras.

 

4. Quais são os principais potenciais que identificaram na Serra da Estrela? Eles credenciam o uso sustentável da região?

A Serra da Estrela é um ambiente com uma imensa biodiversidade. Ao longo de toda a serra encontramos uma variedade muito grande de ecossistemas a curtas distâncias, é muito diferente filmar em Verdelhos, do que em Vilanova de Tazem ou no cimo da serra, para citar alguns exemplos.

Do nosso ponto de vista, sempre constatámos que as populações locais vivem em harmonia com as montanhas, que as protegem porque precisam delas e porque fazem parte da sua identidade, mas é difícil acreditar que estão a fazer uma utilização sustentável da região quando as autoridades políticas oferecem tantas facilidades para encher as montanhas de carros e empresas. Compreendo que esta é uma questão muito difícil, pois o turismo traz dinheiro, mas pode ser um dinheiro que vem tão facilmente como vai. Por isso, é muito importante que as condições para a produção do turismo estejam nas mãos dos habitantes das montanhas, só assim se pode fazer de uma forma sustentável.

 

5. Como é que o filme “Em Busca da Estrela” pode promover o desenvolvimento da Serra da Estrela?

Os filmes servem sempre para reforçar representações, e penso que este em particular, em que tanto o espaço como os habitantes têm tanto peso, vai permitir-nos mostrar um momento específico do local, um momento entre dois grandes incêndios (2017 e 2022). A minha intenção seria que, ao congelar este momento na Serra, no futuro eles pudessem ver o filme e usá-lo como referência para compreender melhor o seu próprio momento atual. Acredito também que a figura de Zé Maria Saraiva, que trabalha há muitos anos no campo da divulgação e do ativismo ambiental, pode ser uma inspiração decisiva para as gerações futuras. Pelo amor que professa pela Serra e pela sua atitude exigente para com os políticos.

 

6. Desafiamos-te a partilhares um momento que tenha marcado a vossa aventura.

Era um dia a meio da rodagem em que tínhamos saído para filmar de manhã muito cedo. Era uma cena em que o protagonista, depois de se perder nas montanhas, vislumbrava o cume de uma montanha a três quilómetros de distância. Quando saímos do nosso alojamento, havia um nevoeiro que não permitia ver nem a três metros de distância, tudo indicava que teríamos de mudar de planos. Estávamos toda a equipa num planalto entre Verdelhos e Sabugueiro e a sensação era muito especial, só conseguíamos ver silhuetas perdidas no nevoeiro, foi um momento muito bonito e decidimos filmar na mesma, tivemos que fazer uma série de alterações de guião, que até nos ajudaram a aligeirar a história. Filmámos o Joel, o protagonista, a caminhar no meio do nevoeiro, desorientado, e até hoje é, para mim, uma das cenas mais bonitas do filme.

 
 
 

 

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