Revista Zimbro
by Amigos da Serra da Estrela
 

2024-11-09

“Sol na Eira e Chuva no Nabal”?

“Sol na Eira e Chuva no Nabal”?

 

Palavras chave

agua  barragem  covilha  
 

Quem tem acompanhado a situação do abastecimento de água ao Município da Covilhã tem perfeita consciência das carências que este concelho teve de enfrentar e dos riscos emergentes em casos de seca prolongada. Esta realidade forçou a Câmara da Covilhã a ter de recorrer a toda a água disponível em minas e nascentes, captações em poços nas margens do rio Zêzere e afluentes, bem assim como de um pequeno açude na ribeira das cortes, suprimindo, assim, a escassez de água de que a população necessitava para poder satisfazer as suas necessidades. (1)

Na situação do abastecimento de água à Covilhã foram ponderadas várias alternativas, como a de uma barragem na Atalaia, alteamento da barragem do Viriato, a captação e adução, desde as barragens do Covão do Ferro, Sabugal, Caldeirão e Capinha. O que demonstra a gravidade da situação de carência de água em situações de estio prolongado. Em 22 de Dezembro de 2023, a Assembleia Municipal da Covilhã, aprova uma recomendação à Câmara para que se “Conclua o projeto da nova barragem ou alteamento da existente barragem do Viriato”. Foi, ainda, aprovada uma recomendação que este Executivo “atribua prioridade estratégica ao plano de ordenamento das Penhas da Saúde”.

O processo para a construção de uma barragem na ribeira das Cortes já data do início da década de 90 do século XX. Ressalta de todas as alternativas estudadas que a melhor solução seria construir uma nova barragem naquela ribeira e naquela zona. Do ponto de vista dos valores naturais a preservar, a área onde está definida a construção da barragem é a que melhores condições reúne e nunca mereceu preocupação de relevo por parte da nossa Associação. Aliás, não compreendemos a teimosia que teve o então Presidente do Município da Covilhã, Carlos Pinto, procurando que a mesma fosse edificada mais para montante, com uma área de alagamento superior, mas com menos capacidade de armazenamento. Aí, sim, o confronto com os valores botânicos seriam muito mais significativos. Para além do desgaste que o processo causou, não se pode ignorar o tempo perdido, muito menos os custos da obra que serão, futuramente, muito superiores. 

Mas há um dado que não nos pode deixar tranquilos e queremos deixar isso bem presente, até para que os cidadãos da Covilhã entendam o que está em causa e que os dinheiros que irão ser gastos na construção da barragem não serão, apenas, do seu Município, mas suportados por todos os cidadãos. De facto, ser sensível às carências de água para tranquilidade dos habitantes da Covilhã é para a nossa Associação perfeitamente natural e até um dever, mas será justo que o Município Covilhanense procure com esta infraestrutura resolver o problema do abastecimento de água e, ao mesmo tempo, promova o crescimento de uma urbe nas Penhas da Saúde, que já foi publicitada como “Aldeia de Montanha”? Será honesto que as Penhas da Saúde, cujo crescimento teve por base a construção clandestina (o que a torna um caso único na Serra da Estrela e um precedente gravíssimo) possam estimular os outros municípios a reivindicar igual direito e onde nunca se cumpriram os Planos de Ordenamento? Será que os cidadãos que não tiveram a ousadia de construir clandestinamente nas Penhas da Saúde se podem sentir satisfeitos por se construir uma barragem e, simultaneamente, se verificar que se aumenta o consumo de água nas Penhas da Saúde? 

Não, nestes modos, não contem com a nossa Associação para defender a construção da nova albufeira.

As manifestações de desagrado, por não se verem contempladas no Orçamento de Estado as verbas que já tinham sido prometidas pelo governo anterior, denunciam poder comprometer a viabilidade da obra. Era positivo que o momento de incerteza fosse capaz de gerar clarividência aos responsáveis autárquicos, inclusive dos membros da Assembleia Municipal da Covilhã com as recomendações que fizeram, necessárias, mas, para que haja “Sol na eira e chuva no nabal”, é necessário que o tempo esteja de feição. Parece que não é para aí que as alterações climáticas dão um bom sinal.

Haja bom senso!

 
 
 

 

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