Revista Zimbro
by Amigos da Serra da Estrela
 

2024-03-05

Parque Natural sem alternativa – Parte 3

Parque Natural sem alternativa – Parte 3

 

Palavras chave

alternativas  
 

Na primeira parte da nossa proposta, considerámos os aspectos do sistema de comunicação viário, dando especial ênfase às condições de isolamento a que têm sido votadas importantes povoações das vertentes sul da Serra da Estrela. Fizemo-lo através de soluções que encurtam as ligações entre a A23 e a EN17 (nó de Vila Cova à Coelheira) em mais de 20 quilómetros, proposta que, até ao momento, não vimos ser apresentada por nenhuma outra entidade.

Na segunda parte da proposta, avançámos com uma alternativa para o transporte dos visitantes ao ponto mais elevado da Serra da Estrela e, simultaneamente, do continente, através de meios mecânicos. Medida que, à semelhança da proposta para a comunicação viária, também não se pôde ainda vê-la anunciada. Por outro lado, as propostas que têm vindo a ser publicadas contam com um parecer negativo por parte da ASE, ora por razões de segurança, ora pelo impacto paisagístico, ora por não serem exequíveis no ambiente particular da Serra da Estrela.

A Parte III, que aqui apresentamos, diz respeito à ultima peça necessária para completar uma só proposta, uma só a visão que a ASE defende acerca do desenvolvimento da Serra da Estrela. O conjunto de três partes, divididas por uma questão de prioridades, fundamentais para permitir o normal funcionamento das realidades vigentes, visam demonstrar a importância que urge em alterar a filosofia que tem vindo a servir de orientação para a promoção da Serra da Estrela. Esta, por sua vez, representa um potencial destino turístico, dinamizador das economias e do desenvolvimento regional e nacional.

E porque o todo é melhor que a soma das partes, convidamos os nossos leitores a inteirarem-se da proposta geral que a ASE tem vindo a divulgar através das Partes I e II, publicadas nas últimas três edições da Revista Zimbro.


A Serra da Estrela enquanto Parque Natural

Apesar dos ataques velados que, sistematicamente, são feitos ao Parque Natural da Serra da Estrela, acreditamos que a generalidade dos Municípios e os cidadãos residentes consideram que a Serra da Estrela deverá continuar a ser um Parque Natural. Pensamos, até, que essa condição está enraizada na mente de cada habitante e que dificilmente os mesmos aceitarão que o maior maciço montanhoso do país deixe de estar associado a esse estatuto.

Porém, na outra face da moeda, confrontamo-nos com a necessidade de que esses mesmos Municípios, defensores do Parque Natural onde pertencem, aceitem assumir as responsabilidades subjacentes à preservação de uma vasta área da Serra da Estrela como aquela que o Decreto-Lei 557/76, de 16 de Julho, criou. Na verdade, a legislação referida tem o propósito de salvaguardar o património natural e cultural, onde vive, justamente, população rural que conserva hábitos e formas de cultura locais que interessam acautelar e promover.

Tendo em linha de conta a gestão que tem sido feita do território da Serra da Estrela, a par com as pretensões dos autarcas relativamente à região, particularmente, dos espaços incluídos na Área Protegida, parece que estamos perante uma situação em que importa apurar: afinal, que Parque Natural querem os autarcas para a Serra da Estrela?

O panorama que se avizinha não é agradável, principalmente, ao analisar a realidade que se pode encontrar na Serra de Gredos. Em primeiro lugar, realça-se o facto de, na Serra da Estrela, a área mais importante do ponto de vista da conservação limita-se a uma área de 102km², atravessada a meio por uma estrada nacional. Na mesma linha de pensamento, se espreitarmos sobre o ombro e observarmos a nossa vizinha Serra de Gredos, cujas dimensões são muito idênticas às da Serra da Estrela, a mesma possui uma área total que conta com mais de 700km² sem nenhuma estrada pelo meio e não consta que algum alcaide tenha na agenda o plano de lá construir alguma.

Conhecer a realidade do Parque Natural da Serra da Estrela é fundamental para que se compreenda a urgência de travar a degradação do Património Natural e, ao mesmo tempo, recuperar o que ainda não tenha ultrapassado a fronteira do irreversível.

É fulcral que todas as questões envolvidas na conservação do Património Natural se tornem claras para os cidadãos, numa tentativa paralela de que os responsáveis pelas consequências da eventual perda ou deterioração do mesmo não fiquem confinados à figura abstracta das Câmaras Municipais. Daí que devam ser responsabilizados os seus representantes, pois são eles, e não as Câmaras Municipais, os defensores do conjunto de projectos que têm vindo a pôr em causa o Património Natural da Serra da Estrela. Actualmente, a designar:

António Ribeiro – C. M. de Seia
Carlos Ascensão – Presidente da C.M. de Celorico da Beira
Flávio Massano – Presidente da C. M. de Manteigas
Luís Tadeu – Presidente da C. M. Gouveia
Sérgio Costa – Presidente da C. M. da Guarda
Victor Pereira – Presidente da C. M. da Covilhã

Neste sentido, importa, em primeiro lugar, começar por dignificar o Parque Natural e oferecer-lhe um estatuto, que procure valorizar o património e, ainda, apostar num turismo de excelência e sustentável. Uma vez que nas duas propostas anteriores se procurou dar resposta ao sistema rodoviário, alternativo à EN339, ficam apresentados o conjunto de aspectos que sustentam a premissa do encerramento da estrada da Torre, entre a Nave de Santo António e a Lagoa Comprida. Esta estrada, refira-se até à exaustão, foi o maior erro alguma vez cometido na Serra da Estrela, cuja correcção é cada vez mais imprescindível.

De entre os principais factores que atraem os visitantes à Serra da Estrela, destacam-se o carácter atractivo da neve, a altitude e a conquista associada ao alcance do ponto mais alto de Portugal continental, e, claro, a possibilidade da prática de esqui.

A ciência tem vindo a dar sinais de que a neve na Serra da Estrela tem os dias contados, com um prazo de validade de apenas duas décadas! A razão, que não nos deverá surpreender, estará associada às alterações climáticas. De uma coisa não podemos ter dúvidas: a queda de neve tem vindo a diminuir ano após ano de forma constante e tal realidade impõe que se procurem soluções o quanto antes.

Neste sentido, todos os edifícios (públicos) existentes na Torre devem ser pensados para a valorização e promoção do património natural da Serra da Estrela. Esse investimento pode ser transversal a várias possibilidades, que apresentamos de seguida:

1. Sistema educativo (escolas e universidades), permitindo a investigação em diferentes áreas científicas;

2. Património edificado à visitação, quer na perspectiva do potencial informativo e formativo, bem assim como à venda de produtos promocionais da Serra da Estrela;

3. Garantia de espaços mínimos de apoio na área da restauração e cafetaria, devendo o comércio actualmente existente na Torre ser erradicado;

4. Desmantelamento do equipamento existente nas pistas de esqui, que não se justifica ser mantido, nomedamente, a telecadeira, procurando recuperar a área de cervunal e a respectiva paisagem. Uma vez que não é necessário proceder à remoção da neve, nos 15 quilómetros da EN 339, será possível a prática de esqui de fundo, ao longo de vários quilómetros, quer para o lado norte, quer para a vertente sul, com possibilidade de regresso através dos meios mecânicos propostos na proposta anterior.

5. Promoção do Pedestrianismo, através da criação de um circuito que abranja uma significativa área da Serra da Estrela, que tenha como ponto nevráulgico, para lhe dar sequência, a Torre. Não sendo de menosprezar a hipótese de se pensar num refúgio de montanha destinado a apoiar os seus utilizadores. O conjunto de percursos existentes não tem fundamento, alguns localizados em zonas que deveriam ter sido salvaguardas, como consequência do pisoteio e os efeitos dele resultantes.

O circuito que a ASE propõe revela pormenores da Serra da Estrela que não são conhecidos pela maioria dos pedestrianistas, evitando zonas mais sensíveis no domínio da conservação e com as quais Portugal se comprometeu proteger. Não obstante o não comprometimento com a protecçãoda Serra, o pedestrianismo permitiria que as povoações criassem radiais de acesso ao referido circuito.

Entendemos que os meios mecânicos propostos na Parte II devem ficar na alçada dos três Municípios que confinam os seus territórios na Torre, depois, obviamente, de dialogarem com os Baldios das quatro freguesias, ficando ao critério dos mesmos a forma de gestão dos meios mecânicos. Não menos importante, o que esperamos e desejamos é que o comércio se faça nas povoações que rodeiam a Serra da Estrela, porque é lá que se deve desenvolver o comércio, onde se encontram as infraestruturas e onde, efectivamente, vivem as pessoas.

Se o que se pretende verdadeiramente é um turismo de qualidade e sustentável, então há-que garantir a conservação do Património Natural da Serra da Estrela, para que os visitantes a possam admirar em toda a sua plenitude.

 
 
 

 

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