Revista Zimbro
by Amigos da Serra da Estrela
 
Bióloga

2023-11-01

A falar é que a gente se entende: A Comunicação e a Educação Ambiental

A falar é que a gente se entende: A Comunicação e a Educação Ambiental

 

Palavras chave

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As ameaças à conservação do património cultural e natural inerente à Serra da Estrela são várias e de muitos polos diferentes. A par das marcas do êxodo rural, que determinaram o declínio da agricultura, do pastorício e de outros métodos de produção primária culturalmente inseparáveis da paisagem serrana, encontramos também o dispersar das monoculturas, a queda da biodiversidade autóctone, e o envelhecimento e despovoamento populacional. Vemos, também, a ameaça de formas insustentáveis de turismo e a criação de infraestruturas em locais despropositados face à proteção legal concedida ao território. Todas estas problemáticas refletem a falta de serviços e incentivos à fixação local, investindo-se em quem vem, mas não em quem fica.

Somos poucos e afastados, dificultando a forma como comunicamos as nossas preocupações, crenças e saber, tendo como resultado a fraca mobilização social quando existe a necessidade de defender a nossa herança comum, a Estrela.

É imperativo promover o diálogo e a partilha de ideias, criando pontes e sinergias entre os serranos de diferentes áreas sociais e laborais. Só desta forma podemos caminhar lado a lado em direção a um futuro que honre o legado dos nossos antepassados. É da nossa responsabilidade, gerações futuras e presentes, conservar a gnose da vida de montanha e resgatar este conhecimento da memória de quem o guarda zelosamente pelas veredas e ruelas íngremes das localidades deixadas ao esquecimento. Enquanto políticos e investidores pintam as grandes cidades como uma utopia de regalias e ofertas, toldando a verdade da selva de asfalto e do deterioramento da condição humano-empática a que nelas assistimos, sejamos a voz da resistência!

Reverter esta tendência passa obrigatoriamente por instruir as nossas gentes de todas as idades, com especial foco nas crianças e adolescentes. É possível e aconselhável informá-las sobre as potencialidades da região e presenteá-las com as ferramentas necessárias a permitir que continuem a chamar a Serra de “casa”. Desta forma, a educação ambiental é um recurso potencializador do desenvolvimento económico e social da Serra da Estrela, participando ativamente na comunicação do conhecimento. Se as crianças de hoje irão decidir o nosso amanhã, então está nas nossas mãos prepará-las para tal. É inegável a necessidade de as guiar na descoberta do património local, expondo-as às preocupações e problemas que enfrentam, apresentando soluções e motivando socioculturalmente a defesa do território.

Caso de Estudo: A Comunicação pela Defesa da Fauna

«E, assim, nas fábricas e nos humildes casebres da cidade quase ignorada do Mundo, a meia encosta da brava serra de lobos, os homens das lãs iam vivendo também as angústias e as esperanças universais.»

(Lã e Neve; Ferreira de Castro; 1947)

Sempre coexistimos com um leque abundante de espécies, muitas delas com conflitos acentuados com o Homem, um ótimo exemplar é o lobo-ibérico. Perseguimo-lo sem o compreender, escrevemos livros sobre o quão mau pode ser, tecemos lendas sobre os massacres que forja e sentimos agora o efeito da sua extinção local. Campos agrícolas são lavrados por javalis em números incontroláveis, a reflorestação natural é incerta e lenta, dado o número elevado de herbívoros e, sem nenhuma ameaça, perde-se a tradição dos cães pastores, como a raça autóctone a quem a região empresta o nome – o Cão da Serra da Estrela.

O lobo é apenas um exemplo das consequências da incompreensão e desinformação, demonstrando a forma como a comunicação e a educação podem mudar mentalidades e paradigmas, unir pessoas e biodiversidade, e proteger a Estrela da ameaça da ignorância.

 
 
 

 

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