2024-07-18
Palavras chave
barragem pnseA questão da barragem do Barlateiro (Alto Mondego) não é nova e já esperávamos que viesse a terreiro, dado o empenhamento que Presidente da Câmara da Guarda, Sérgio Costa, tem dado ao assunto. E não é por acaso, pois apresenta-nos um currículo sofisticado, com uma Pós-graduação em Controlo de Exploração de Sistemas de Abastecimento de Água e Drenagem de Águas Residuais, foi técnico na empresa Águas do Zêzere e Côa (actual Águas do Vale do Tejo) e Presidente do Conselho de Administração dos Serviços Municipalizados de Água e Saneamento da Guarda.
O Ministro da Agricultura esteve na Guarda, o apelo de Sérgio Costa foi acarinhado pelo mesmo, que disse empenhar-se na construção da barragem, não deixando de vincar que a sua grande preocupação são os fundamentalistas, principalmente, os “radicais verdes”. A Rádio F que não se coibiu de nos brindar com a imagem de uma barragem, eventualmente, dos Alpes ou Pirenéus, mas convém, desde já, esclarecer o senhor Ministro quanto aos “radicais verdes” e à barragem em questão.
Não consta que o país esteja ou tenha passado por radicalismos que motivem a preocupação do Ministro da Agricultura. Houve, de facto, movimentos mais intensos, mas sempre enquandrados no direito de participação e denúnica de atentados ao meio ambiente, por parte do movimento associativo e dos cidadãos. O que devia preocupar o Ministro, no entanto, é a ausência de participação dos portugueses nas questões ambientais, em particular, das ONGA’s e isso tem raízes, desde logo, de ordem económica, que causa imensas dificuldades no dia-a-dia dos portugueses, impedindo-os de atender a questões sociais para o assentuado recuo que se tem vindo a verificar no país.
Relativamente à barragem e à imagem que a Rádio F publicou, é bom que se saiba que o Planalto de Videmonte é uma coisa e o local referido para a construção da barragem é outra totalmente diferente. A altitude do Planalto de Videmonte anda pelos 1.500 metros e a zona máxima de alagamento está nos 1.000 metros de altitude, por onde corre o rio Mondego. Do que se conhece relativamente a estudos sobre a barragem denominada Barlateiro – por ser aí o local escolhido para o paredão, provavelmente dos anos 60 do século passado – é que o nível pleno de armazenamento (NPA) se situa à cota dos 1000 metros, sendo a altura do paredão a mesma da albufeira – 100 metros.
Numa fase anterior, falava-se em aproveitar as verbas do Programa para Revitalizar o Parque Natural da Serra da Estrela (PRPNSE) para “promover o desenvolvimento sustentável da região; a recuperação e revitalização do seu património natural e biodiversidade; a inovação e o investimento para a revitalização dos setores produtivos e diversificação da base económica da região, combatendo a perda demográfica e tornando o território mais resiliente às alterações climáticas e aos seus efeitos, preservando e valorizando o seu principal ativo patrimonial, o PNSE e todo o seu ecossistema”. O que numa fase inicial constituía uma necessidade para se fazer o estudo sobre a barragem, actualmente, aborda-se, apenas, a possibilidade para a sua construção.
Tomando como referência os referidos dados, achamos que os protagonistas pelo seu empreendimento se devem preocupar mais com as consequências a vários níveis, do que com os “radicais livres” inexistentes, para alívio do senhor Ministro.
Por outro lado, deixamos algumas questões para reflexão:
– Como vão justificar os Municípios que se têm derretido em esforços para a construção da chamada “Estrada Verde”, bem assim como a ex-Ministra Ana Abrunhosa, declarando a sua implementação como estruturante para o desenvolvimento da região? Será que já tinham em mente a travessia de barco para ligar as duas margens?
– Como vão conciliar a perda das melhores terras marginais do rio Mondego que se encontram num vale magnífico aberto onde se desenvolve uma agricultura de montanha única e que consta como elemento fundamental nas razões que levaram à criação do PNSE?
– Conhecendo bem, os propósitos do Município de Gouveia de transformar os casais em resorts, a rede de estradas (até de padaria é descrita), o desaparecimento da Senhora da Assedace, como irá reagir uma vez que tudo isto irá ficar submerso e está no seu território e não no da Guarda?
– Como reagirá Manteigas, que fica com o Covão da Ponte e o Casal da Paradela submerso, bem assim como a antiga casa do guarda e escola, que ficará debaixo de água se o NPA for o descrito atrás?
– E, já agora, será que teremos água suficiente, dadas as previsões que apontam para a ausência de neve para encher a albufeira? Uma vez cheia, quanto tempo será necessário para voltar a encher?
Antes de se falar de construção, o melhor mesmo será estudar bem o assunto, avaliar os pós e os contras, apostar na eficácia da gestão da água e preocuparem-se mais por não haver “radicais verdes”, do que propriamente a sua ameaça. Já sabíamos que o fogo tinha sido um maná para os Municípios afectados. Só esperamos que o maná seja eficientemente bem aproveitado para o que é importante fazer e não gastar as verbas em algo que possa transformar-se num elefante branco, depois de ter destruído todo um património que nos comprometemos proteger.
A Europa não irá gostar e a ASE estará atenta.
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