2024-04-07
Palavras chave
editorialVereda: atalho; caminho estreito; passagem apertada; percurso ou carreiro; rumo; trilho.
Há 30 anos, a ASE lançou o projecto “Trilhos do Passado numa Perspectiva com Futuro” e apossou-se da palavra “trilho”, já que “vereda” era apenas um vocábulo tipicamente utilizado na região da Serra da Estrela e, na época, a população-alvo que se pretendia alcançar não estava ainda familiarizada com a questão dos percursos pedestres. Na verdade, Portugal tardou a despertar para o potencial dos trilhos, quando a ASE já perspectivava a recuperação dos caminhos existentes, outrora concebidos pelos pastores, as então chamadas “veredas”. Quanto de concreto e certo já confiávamos nos percursos, quando ainda ninguém credibilizava a sua rentabilidade?
Actualmente, apraz-nos verificar que há um envolvimento cada vez mais significativo da população com este tipo de actividade, alimentando um turismo que assenta na possibilidade de conhecer novos lugares através dos caminhos pedestres, ainda que, lamentavelmente, o mesmo investimento não se verifique por parte dos responsáveis pela sua concretização.
Em 2007, a ASE projectou a Grande Rota do Zêzere (GR33) e apresentou-a a vários municípios, numa tentativa de dar a conhecer um projecto inovador, no que diz respeito ao turismo e às actividades na natureza. Porém, a efectiva realização do mesmo, além de não ter tido em conta a proposta da Associação, acabou por se distanciar significativamente do potencial que podia ter sido aproveitado. Hoje, como se pode verificar, transversalmente, em vários exemplos espalhados pela Serra da Estrela, a situação repete-se.
As acções realizadas há 3 décadas já configuravam a visão que a ASE, actualmente, ainda possui – as veredas como uma das principais formas de turismo sustentável na Serra da Estrela. Hoje, depois de anunciados os 155 milhões de euros a investir nesta região, constatamos que um dos projectos mais promissores – o “Tour da Serra da Estrela”, que envolve a elaboração e recuperação de veredas, não é, sequer, uma opção. De facto, “aqueles que não conseguem lembrar-se do passado estão condenados a repeti-lo.”
Ao longo dos anos, procurámos evitar a intervenção em zonas sensíveis do ponto de vista da conservação da natureza na Serra da Estrela. Por oposição, é com um olhar de grande inquietação e preocupação que temos assistido às acções dos municípios, que constituem sérias ameaças a áreas que são autênticos santuários da Natureza e deviam ser consideradas como tal. Quaisquer que sejam os investimentos, os mesmos devem ser duradouros, de maneira a considerar o futuro e a sustentabilidade na Serra da Estrela. Todavia, perante a possibilidade de financiamento, a tendência governamental recai na construção de infraestruturas, embora a necessidade fundamental da região seja uma aposta na sustentabilidade que, ao longo dos anos, permita que os seus visitantes possam conhecer o meio, promovendo o verdadeiro envolvimento com a Serra da Estrela no seu esplendor.
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