Revista Zimbro
by Amigos da Serra da Estrela
 

2024-04-07

Dinheiro muito mal gasto… porque sim!

Dinheiro muito mal gasto… porque sim!

 

Palavras chave

dinheiro  zezere  
 

A Grande Rota do Zêzere – GR33, assim baptizada – foi o primeiro projecto deste cariz em Portugal, aquele que, na perspectiva da ASE, poderia ter sido o ponto de partida para tirar o Pinhal Interior do isolamento populacional, por ser um elemento dinamizador da regiã0, bem como dos seus habitantes, já que envolve 17 Municípios que, como sabemos, têm sido marcados pelo declínio da população.

Não obstante o investimento de mais de um milhão de euros, alocado à construção de 370 quilómetros de vereda ao longo do Rio Zêzere, o projecto em questão não foi devidamente valorizado do ponto de vista técnico e a ousadia dos preponentes na elaboração da GR33 ficou aquém do potencial que podia ter sido retirado do mesmo. A ausência de uma auscultação junto da população relativamente à projecção do percurso, de modo a enriquecer o trajecto que o constitui, comprova que o investimento subjacente ao mesmo se resumiu a uma questão de capital e, por consequência, constituiu um elemento estranho junto das populações envolvidas. Aliás, para comprovar esta realidade, bastar-nos-á observar o investimento depositado nos passadiços. Efectivamente, a Grande Rota do Zêzere foi uma gota de água num mar de construções, se comparada com os 6 milhões gastos em apenas 7 quilómetros de passadiços cujo futuro é muito incerto.

A visão da ASE que, diga-se de passagem, conta com algumas décadas a trabalhar nesta coisa dos percursos, defende que o problema assenta em duas situações concretas: quem possui o capital necessário para ordenar a construção dos percursos, desconhece os aspectos inerentes à poda; e quem se candidata a fazê-los, assume a posição do vilão – em terra de cegos, quem tem olho é rei, e é isso que nos parece suceder.

O que sobrou daquilo que transmitimos aos representantes dos Municípios, reunidos em 2007, em Cambas, a convite da ASE, foi apenas a ideia. Tudo o resto, o fundamental, infelizmente, caiu em saco roto. Desde logo a questão de princípio de que o processo não deveria ignorar as comunidades locais, devendo as mesmas ser parte integrante e participante na busca da sua inclusão, uma vez que ninguém conhece melhor os antigos caminhos que aqueles que neles vivem.

As estradas deveriam ser evitadas, mas claro, aconteceu precisamente o contrário. Do mesmo modo, os atravessamentos das linhas de água deveriam ser muito bem estudados, por constituírem um ex-líbris para quem caminha, o que não se verifica e, pelo contrário, a vereda distancia-se do curso do rio em vários pontos. Neste sentido, o aumento substancial da distância da rota (112 quilómetros, mais de 40% do real), desviando-a do rio Zêzere, diz respeito a um dos maiores erros na construção deste percurso, pois o rio representa o mais interessante e apelativo elemento da mesma.

A ASE lamenta que os conhecimentos de quem ofereceu a ideia tenham sido menosprezados. Na verdade, nunca foi pedida qualquer opinião, embora essa disponibilidade tivesse sido manifestada desde os encontros iniciais. Este lapso fez com que se desperdiçasse a sabedoria e experiência necessárias para se dar lugar a uma realidade diferente à que se tem verificado, que não dignifica a riqueza e o potencial do caminho que efectivamente foi criado. Tal pode-se comprovar através do traçado ao longo dos 370 quilómetros de vereda. De facto, quantidade não é qualidade e a GR33 é a prova disso mesmo.

A ilustração abaixo mostra um trecho do rio nos limites entre Sameiro e Vale de Amoreira (Manteigas), onde é visível a levada mais próxima da água e da sombra. Em vez de ter sido aproveitada como, aliás, em quase todo o traçado dentro do PNSE, optaram por fazê-lo muito mais acima, onde o calor, a ausência da água e o “sobe e desce” são as características mais salientes, que em nada atraem os seus caminhantes. Mais se acrescenta que, mesmo do ponto de vista da gestão e manutenção do percurso, seria de extrema utilidade manter a levada limpa, ao invés de tal constituir uma preocupação onde é menos necessário, dando mais trabalho e despesa.

A linha da Beira-Baixa reúne, actualmente, melhores condições que em 2013. Está electrificada, os comboios passam junto da foz do rio e beneficia, ainda, de uma das paisagens mais belas do país. Verificamos a mesma realidade em percursos disponibilizados ao público há relativamente pouco tempo, como o caso da vereda que passa pelo Covão do Teixo – o melhor exemplo do que não se deve fazer.

Não encaramos estes erros como uma causa perdida, bem pelo contrário: pensamos que deve ser motivo para corrigir o que tiver de ser corrigido e fazer deste projecto uma alavanca para ajudar a desenvolver e promover a espinha dorsal nacional que pode estar subentendida ao rio Zêzere, entre a sua nascente e a foz. De facto, não se considera este um projecto perdido e, pelo contrário, acreditamos que se encontram reunidas as condições para que o mesmo possa ser potenciado ao mais alto nível.

Assim o queiram os Municípios!

 
 
 

 

Comente o artigo

0 Comentários


Contactos | Ficha técnica

© 2024 Revista Zimbro

made with by alforreca

Siga-nos