Revista Zimbro
by Amigos da Serra da Estrela
 

2024-03-05

Grande Incêndio de 2022 – Um Maná para os Municípios

Grande Incêndio de 2022 – Um Maná para os Municípios

 

Palavras chave

incendios  territorio  
 

O grande incêndio de 2022 foi um maná para os Municípios, já a principal prejudicada foi a Serra da Estrela.

A 23 de Setembro de 2023, a ASE lançou a nota de imprensa – “Porque Tememos os Milhões?”, em que manifestámos algumas inquietações, que hoje se confirmam, face aos milhões anunciados e à ausência de sinais que nos tranquilizassem após a tragédia que devastou uma enorme área da Serra da Estrela.

O que nos preocupa é que a anunciada “competitividade” se venha a fazer à custa da Serra da Estrela e não a seu favor. Temos fortes razões para pensar que as ambições dos autarcas em relação às carências do turismo na Serra da Estrela não se alteraram e vamos observando sinais que nos deixam apreensivos relativamente a esse futuro.

Recentemente, na sequência da Resolução do Conselho de Ministros, de 8 de Fevereiro de 2024, o Governo anunciou a atribuição total de 155 milhões de euros, provenientes de fundos nacionais e europeus, no âmbito do Programa de Revitalização do Parque Natural da Serra da Estrela (PRPNSE).

De acordo com o referido comunicado, o Programa “nasceu do trabalho de 68 entidades da Região”, sendo, no entanto, evidente que nessa dinâmica não tenha havido consideração pelo movimento associado às preocupações ambientais. Este aspecto pode verificar-se através da Carta Aberta e demais diligências que o conjunto de 28 entidades ligadas ao ambiente tornou públicas, inclusive, com o pedido de audiências à Ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, bem assim como aos responsáveis da CIM-BSE. A ASE, que desde a primeira hora se associou ao movimento, e concorda, na generalidade, com as apreensões constantes no documento, não subscreveu o mesmo por uma questão de procedimentos.

Há um pormenor que é referido no comunicado do Governo que nos parece relevante, pela convicção de que se vai passar precisamente o contrário do que é anunciado, especificamente, na afirmação – “o Programa de Revitalização do Parque Nacional da Serra da Estrela (PRPNSE), que inclui vários projetos estruturantes para proteger o ecossistema da Serra da Estrela(…)”. Na verdade, só quem não tem a mínima noção das fragilidades dos já comprometidos ecossistemas do Parque Natural da Serra da Estrela pode pensar que é através das obras anunciadas que estes alguma vez poderão ser salvaguardados. Contrariamente ao que se espera, irá passar-se, precisamente, o inverso – os projectos previstos não são estruturantes, e tem-se vindo a apertar o cerco a espaços vitais para a conservação dos ecossitemas, revelando nada mais que a ignorância de quem só pode ter descoberto a Serra recentemente.

A contradição entre os projectos em causa e as intenções já publicitadas por alguns Municípios atesta bem a maneira como a problemática da Serra da Estrela está a ser discutida – de forma negligente, descuidada e sem o tempo que requer verdadeiramente. Verifica-se, aliás, que não há uma ligação, coesa e consistente, entre os vários interesses envolvidos.

A tarefa de dar sequência às medidas destinadas a contemplar os 15 Municípios da CIM-BSE irão ficar na alçada deste organismo, sob a coordenação da CCDR Centro I.P.

Dos anunciados projectos, destaca-se o apoio na recuperação de aldeias, construção de edifícios mais resilientes ao fogo, requalificação de infraestruturas e equipamentos afectados; estabelecimento de uma rede de percursos pedestres e praias fluviais; construção da Barragem das Cortes e elaboração do projeto da Barragem da Senhora De Assedasse; criação de Zonas Económicas Especiais e área de acolhimento empresarial; implementação de uma Zona Livre Tecnológica para desenvolvimento de produtos e serviços inovadores no setor da energia agroalimentar, turismo e outros; aceleração d o desenvolvimento do Porto Seco na Guarda; revitalização da Escola Profissional Agrícola Quinta da Lageosa; criação do Observatório das Alterações Climáticas e o Centro de Ciência Viva de Montanha; implementação de medidas de controlo de erosão, tratamento e proteção das encostas; reabilitação da rede hidrográfica; criação, dinamização e modernização de unidades locais dos centros municipais de Proteção Civil; e construção de um novo quartel de Bombeiros em Manteigas.

Pelo conjunto de intenções cujo custo natural que vai muito além de 155 milhões de euros, é fácil depreender que a Serra da Estrela foi quem mais sofreu e irá continuar a padecer.

Lamentavelmente, concluímos que, para além dos milhões, a Serra carece de adequadas visões.

 
 
 

 

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2 Comentários


  1. A Serra da Estrela não precisa de milhões. Não precisa de milhões de Euros, pelo menos.
    Precisa de milhões de plantas para substituir as que têm ardido em indêndios repetidos. Precisa de um esforço consertado, organizado e sistemático para que possa ter alguma beleza sem ser o negro e o cinzento.
    Quemam a Natureza para gastarem mundos e fundos a construir barragens, e objectivos vagos como a ‘criação de Zonas Económicas Especiais’ e um ‘Observatório das Alterações Climáticas’ – isso serve de pouco ou nada, quando as encostas estão ‘limpinhas’, à espera que as chuvas levem o resto do solo que ainda não foi levado depois dos incêndios…
    Ficam as pedras, nuas e estéreis, para observarem o clima, e fazerem economia especial…

    • josedaserra diz:

      Agradecemos o seu comentário.
      Neste artigo quisemos realçar os aspectos das ajudas financeiras e da contradição com a reposição dos danos causados nos ecossistemas.
      Sem dúvida que a reflorestação é uma questão complexa, numa área onde muitos interesses interagem. É um tema que iremos desenvolver brevemente.

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