Revista Zimbro
by Amigos da Serra da Estrela
 
Engenheiro silvicultor e arquiteto paisagista

2023-12-06

PNSE, breve resenha da sua história

PNSE, breve resenha da sua história

 

Palavras chave

pnse  
 

Quando em 1976 se criou o primeiro Parque Natural no nosso País, ele foi na Serra da Estrela (PN), por ser um exemplo de economia de montanha numa paisagem humanizada, mas que guardava relíquias da flora e da fauna como eram testemunhos de que, ao longo do tempo, os homens da Serra souberam conviver com a Natureza.

Mas, entretanto, estava fortemente ameaçada de degradação paisagística e económica devido a medidas arbitrárias de reflorestação, impostas pelo Poder Central, pelo que a via dos povos serramos piorava e a composição do coberto arbóreo começou a ficar desequilibrada, sobretudo pela excessiva plantação de pinhal nos baldios, sem respeito pelos direitos tradicionais dos pastores que encontravam ali o pasto para os seus rebanhos.

Com a chegada do regime democrático as reivindicações populares eram justas e cada vez mais veementes. Recordo o padre Morais, pároco de Folgosinho. que era um acérrimo defensor da sua gente e começou por ser um declarado adversário do PN, mas depois, com as medidas que iam sendo implementadas, se transformou num excedente colaborador.

A economia de montanha assentava no pastoreio e na pequena agricultura nomeadamente de centeio; o afamado Queijo da Serra estava a ser industrializado e a perder a qualidade intrínseca a um produto artesanal – havia que recuperar esse valor serrano; por isso o PN, dispondo de uma entusiasta equipa técnica, fez o inventário dos produtores artesanais e financiou obras de melhoramento e de higiene nos ovis e nas queijarias.

E começaram as primeiras feiras-concurso do queijo da Serra, que foram um êxito.

Nessa altura o PN, como todas as grandes áreas protegidas, tinha uma organização administrativa adequada, que incluía um Director seleccionado entre os melhores técnicos para a delicada função, e que era responsável directo da vida do PN e um Conselho Geral que reunia todos os autarcas da região; e à frente dos Serviços Florestais havia administradores de grande gabarito ético e técnico, destacando os Eng.º Farraia em Manteigas e o Eng.º Boieiro em Gouveia. Da laboração desta estrutura resultava a harmonia na gestão do PN – tudo isso desapareceu graças aos iluminados que surgiram depois.

Foi também elaborado um indispensável Plano de Ordenamento que pretendia (e ainda pretende porque ele existe, só que deixou de ser implementado…) incentivar a paisagem de mosaico tradicional da Serra.

Os Vigilantes da Natureza eram pessoas da Serra e dedicados à sua função; permito destacar o José Maria Saraiva, que ainda hoje é uma autoridade que devia ser ouvido para solucionar alguns problemas do PN, se houvesse a realmente intenção e vontade de recuperar este magnifico Parque de montanha, sujeito a tantas arbitrariedades e desleixo. E o trágico incêndio do Verão de 2022 é a demonstração mais violenta deste processo de abandono – mas isso é matéria para outra conversa…

 
 
 

 

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1 Comentário


  1. Jan Jansen diz:

    Foram necessárias poucas palavras para descrever brevemente o problema. Você fez isso muito educadamente, sem ofender ninguém. Mas você será ouvido? Tenho fortes dúvidas. Estive na Serra da Estrela pela primeira vez em 1989. Nos primeiros anos tive alguma esperança, mas no final da década de 1990 e desde então fiquei cada vez mais decepcionado com as autoridades. O geoparque não conseguiu mudar nada neste momento, porque também não apoia o seu argumento e aparentemente não entendeu qual é o verdadeiro problema. Bruxelas também não quer compreender. O que você ouve são, na melhor das hipóteses, palavras bonitas e isso é tudo. Existe um enorme fosso entre o mundo fictício dos objectivos e da burocracia, por um lado, e a realidade real das pessoas comuns e da biodiversidade, por outro.

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