2023-10-31
Palavras chave
estradas zezereNo dia 10 de fevereiro de 2009, a ASE promoveu, no Auditório do Centro Cívico, em Manteigas, um debate aberto à população com o tema: “UMA SOLUÇÃO PARA A ESTRADA DO VALE DO ZÊZERE”.
Posteriormente, solicitámos uma reunião à EP – Estradas de Portugal, S.A., actual Infraestruturas de Portugal, S.A., com quem reunimos, na sua sede, em Almada.
Estas iniciativas decorreram na sequência das enxurradas, ocorridas no Outono de 2005, depois do violento incêndio de Agosto do mesmo ano, que rasgaram e bloquearam a estrada do “Vale do Zêzere”, como atempadamente tinha sido previsto e anunciado pela ASE, logo desde a ocorrência do fogo.
Como, entretanto, não se vislumbraram movimentações por parte das entidades com responsabilidade na situação, tomámos a iniciativa de procurar encontrar sugestões que ajudassem a resolver o problema.
Era claro para a ASE que o problema não estava na estrada, mas sim na encosta, em parte, por erros cometidos que se têm vindo a pagar e que vão demorar a sarar. Mais ainda por haver quem queira meter a cabeça na areia e tentar empurrar o problema para terceiros.
Em caso de intervenção, era, também, uma oportunidade para se encontrarem soluções para alguns problemas de congestionamento que a estrada já tinha, em prol de uma circulação mais fluida e segura.
Na proposta que, então, se apresentou, já se tinha consciência que muito do que estava a acontecer tinha raiz em dois caminhos florestais: o que liga a ER 338 à Lagoa Seca, e o que liga o Fojo ao Gavião, ambos sobranceiros à estrada do Vale do Zêzere. De facto, esses dois caminhos foram abertos sem que houvesse qualquer projecto prévio, uma prática que contraria um passado em que os Serviços Florestais eram exímios na elaboração de projectos para construção de estradas, exemplos que podemos encontrar, hoje em dia, na Serra da Estrela.
Esse zelo foi-se perdendo pela escassez de recursos financeiros, eventualmente outros, que já vinha a verificar-se na Direcção-Geral das Florestas. Os levantamentos topográficos deixaram de ser feitos, as cautelas com os sistemas hidráulicos ausentes e o modelo de intervenção no terreno foi mandar o mestre florestal à frente do caterpillar para lhe indicar a direcção que a sua consciência e experiência (não de estradas, mas da gestão da floresta) achava melhor.
Têm vindo a ser feitos alguns trabalhos nesta área que nos apraz registar. Pela primeira vez, no caminho do Fojo estavam a ser feitas valetas e aplicadas manilhas nas linhas de escoamento. Não é uma solução fácil, dado o perfil do caminho, mas é uma intervenção importante para minimizar riscos de erosão e de deslocamento de pedras.
Pouco importa agora chorar no leite derramado. É preciso encontrar uma solução para que a Estrada Regional 338 (do Vale do Zêzere) funcione e a população de Manteigas possa continuar a utilizar esta importante ligação em boas condições e com segurança.
Para que isso seja possível, tem de haver o envolvimento, objectivo, de todas as partes interessadas, não descurando que os principais interessados são os Manteiguenses. Logo, quem os representa no território tem de ter presente essa responsabilidade e assumir o compromisso de tudo fazer para que tal se torne realidade.
As intervenções que entretanto foram sendo feitas não resolveram o problema agravado pelo incêndio de 2022, que forçou o encerramento da estrada durante cerca de um ano, mantendo-se, presentemente, a funcionar de forma precária.
Consideramos, ainda, que a solução que tem vindo a ser preconizada não é aquela que defendemos na nossa proposta, parecendo-nos mesmo que a preocupação pela eventual queda de pedras eliminou outras preocupações que, do nosso ponto de vista, mereciam ser satisfeitas, como passaremos a descrever, e que constavam na proposta apresentada em 2009.
Relativamente à estrada, deixamos as seguintes notas:
1. A nossa ideia é garantir um alargamento de mais 0,80cm da plataforma, o suficiente para que o cruzamento de autocarros se faça em segurança. Esta intervenção vai originar uma grande quantidade de material sobrante.
2. À medida que se vai alargando a estrada, o muro de suporte do lado da encosta é substancialmente subido, aproveitando o material retirado, ao mesmo tempo que se cria um depósito para absorver o restante material, criando uma plataforma ao longo de toda a estrada onde tal acontecer.
3. A subida do muro de suporte, em pedra seca para permitir a drenagem, tem uma inclinação que, para além de o tornar mais resistente, facilita o cruzamento, nomeadamente, de autocarros, atendendo aos espelhos muito grandes e mais saídos das carroçarias. A sua maior altura, garante melhor e maior prevenção quanto a eventuais incêndios resultantes de cigarros que possam ser atirados pelos condutores, entre outras possibilidades.
4. Os muros, uma vez que se encontram do lado da encosta, para além de poderem ser apreciados, não interferem com a paisagem que se encontra sempre do lado do vale.
5. A plataforma resultante dos sobrantes cria uma zona que amortece ou, até, anula, eventuais quedas de pedras. Esta superfície seria plantada com uma arborização densa e diversificada, entre folhosas e coníferas, estas de grande porte, precisamente, para poder travar grandes blocos.
6. A estrada não tem um sistema de drenagem eficiente porque os Serviços Florestais, quando a alcatroaram, eliminaram as valetas para a estrada ficar mais larga. Um erro que já provocou acidentes causados pelo gelo da água que é drenada. Para resolver este problema, defende-se a criação de uma conduta em cimento, com tampa que permita a entrada das águas pluviais. Ao mesmo tempo, fica o sistema preparado para servir para a instalação da tubagem da água que abastece a vila e a unidade de engarrafamento, bastando, para o efeito, colocar abraçadeiras como se de um caleiro se tratasse. Actualmente, o tubo vem enterrado no centro da via e, até se ter encontrado uma solução para o problema, havia muitas roturas.
7. A manutenção da paisagem é importante, daí que o alargamento não admita cortes que alterem o perfil da morfologia do terreno, mantendo, assim, as suas características de uma estrada de montanha, evitando que se torne numa via rápida.
Quanto à encosta, de nada vale pensar que é com espécies autóctones que o problema será resolvido. É preciso plantar, plantar, plantar, a começar do topo para a base. Quanto mais rápido se fizer a plantação, mais depressa crescem as árvores e menor será o risco de erosão e de enxurradas.
Pensamos que será numa mescla de espécies, entre autóctones e outras, apostando muito em coníferas de grande porte, que se pode encontrar a solução mais eficiente para se obterem os melhores resultados para impedir a queda e deslocamento das pedras.
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