2025-07-15

Palavras chave
floresta reflorestacaoA dimensão da tragédia do incêndio de 2022, escrevemo-lo por mais de uma vez, iria exigir um envolvimento de meios e de recursos humanos que não havia, que não há e duvidamos que venha a haver, tal as alterações que se verificaram nas relações com o trabalho agrícola e a ausência de medidas que evitasse o êxodo que já ninguém consegue iludir. A realidade é demasiado evidente e para procurar minimizar os danos ou até inverter a situação de abandono vai ser necessário que o país se mobilize. Caso contrário a tendência vai ser a da, sistematicamente corrermos atrás dos prejuízos com custo e danos ambientais elevadíssimos, porque os recursos financeiros são escassos e incomportáveis para o futuro.
Passados quase 3 anos, desses dias fatídicos, de intervenções criminosas com a retirada da madeira queimada, as encostas revelam já o que poderá ser o prenúncio de algo que devemos começar a temer. O crescimento, pujante, dos matos, nomeadamente do giestal, é algo que não vai ser fácil de gerir, esperando que a sorte continue a abençoar-nos porque as medidas para dar uma solução ao território agrícola e florestal dificilmente se fará sem gente. Não nos iludamos quanto a isso!
O drama, exposto aos olhos de todos, bem assim como o conhecimento e a vivência que presenciamos ao pormenor é tão profundo que não nos sentiríamos bem se utilizássemos as páginas da nossa revista para fazer acusações. Houve incompetência, falta de visão estratégica, de arrojo durante os dias no combate, claro que sim. Mas não nos detivemos a procurar bodes expiatórios porque o sentimento era demasiado amargo perante a imensidão das chamas que todos queríamos quebrar. A mesma atitude não tivemos quando ousamos acusar de incompetência, desleixo, ausência de regras, de uma atitude pedagógica que evitasse as atitudes de autênticos crimes ambientais, praticados pelos madeireiros, com a retirada da madeira ardida, rasgando as encostas com rilheiras de alto a baixo e caminhos difíceis de compreender. O pensamento no lucro fácil foi, é notório, porque as feridas que não irão sarar, é algo que não foi sentido. A estes apenas a componente moral lhe poderá ser atribuída. Toda a responsabilidade coube a quem permitiu que as rilheiras que dominam todas as encostas, sem excepão, fosse permitida. Teremos de conviver com as consequências desses desvarios que possibilitaram ocorrências que nunca mais poderão ser recuperáreis.
Só a plantação massiva poderá atenuar os avanços da erosão, mas também nesta matéria é algo em que não acreditamos. O que torna esta problemática mais grave é a nossa convicção de que os responsáveis não demonstram, sequer, ter a noção das consequências geradas pela retirada dos troncos em tais condições.
A orientação que foi sendo anunciada era de que não deveria haver reflorestação. A aposta na regeneração natural é revelativo de que o ICNF não procura alterar o coberto vegetal das áreas que têm vindo a ser queimadas. Da regeneração expectável está a sobressair o pinheiro bravo. Mesmo nas zonas onde os carvalhos ou outras folhosas prometem regenerar vão acabar por ser dominadas pelos pinheiros, acentuando o ciclo vicioso de que não iremos livrar-nos.
As equipas de sapadores que surgiram como uma necessidade de melhorar a gestão florestal vão sendo “pau para toda a colher”, sendo mais fácil vê-los a desempenhar funções de cantoneiros que a desempenhar as funções que estiveram na sua origem.Tudo parece estar virado de pernas para o ar.
O país tem de despertar e os políticos saber interpretar muito bem os sinais que a realidade está a revelar.
As encostas ardidas, cada dia cobertas de mais giestas, mais altas e mais densas só têm três alternativas: o corte; a queima; ou o apoio financeiro às comunidades locais associado a outras valências. O corte, acarreta custos e tempo de que não dispomos; a queima, através do fogo controlado, é uma prática improvável que nenhum técnico ousará assumir uma vez que iria queimar todas as árvores em regeneração; restará procurar inverter o ritmo da fuga das pessoas do interior para o litoral, pagando-lhes. Não o subsídio com sabor a esmola, mas o montante necessário que corresponda ao serviço que tais pessoas prestam à sociedade. A renovação dos campos, das florestas e das aldeias do interior só se fará com as pessoas. Sem elas, não há solução!
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